O CONHECIMENTO DO TALES

(Uma estorieta rápida)

Na mesa de um boteco. Boteco mesmo! Sábado, mais ou menos meio dia e meia, cheio de gente. Gente que havia pouco saíra do serviço. Mesa molhada de cerveja, falatório, risadas altas e muita, mas muita mentira até, e vantagens. Eis que um jovem, de nome sugestivo, sugestivo por causa do assunto que viria a abordar –, Thales, falou-me o seguinte:

- Professor, vou prestar vestibular p’ra Direito! Na fe-de-ral, pontilhou.

- Vai, Tales? Puxa! que legal, cara! Vá em frente! Estude bastante, sem preguiça, p’ra que você passe pelo vestibular e seja um bom advogado. Quero ver você nos tribunais!

O tal Tales era um rapaz que teria vinte, vinte e dois anos. Empolgou-se e desandou a falar do tal vestibular, do curso de Direito e de suas ambições. Queria deixar de ser balconista da loja de material de construção e usar terno e gravata, e ganhar dinheiro.

Sou bom ouvinte. Em dado momento, imaginei o rapaz devidamente paramentado e discursando a plateias muito específicas; por isso, usando profissionalmente a linguagem. Ocorreu-me então de lhe perguntar, uma vez que era pertinente, e tasquei-lhe direto:

- Escuta, Tales... e como é que você é em Análise Sintática?

- Aná-o-quê? professor?

- Análise Sintática, Tales!

- Ah!... Nisso aí eu num sô bão não, professor; porque... ó: eu nunca gostei muito de matemática...

Quanto a mim, perdera eu a esperança de ver advogado o xará do “de Mileto”.