Uma britânica ao lado

Das milhares de noites malucas em Amsterdam, esta vai ser difícil esquecer. E não pela razão de nenhuma maluquice. Desta vez, devo dizer que por ser o extremo oposto do que sempre é. Imagine uma sala com vinte pessoas bebendo seus drinks e cantando num karaoke. Uma dúzia de adolescentes imaturos o suficiente pra me irritar por uma década. E eu já havia tomado uma garrafa de vinho para ver se eu ficava tranquilo no recinto.

Ao retornar para a saleta da bagunça após uma rápida ida ao toalete, notei uma garota que não estava lá antes. Na verdade primeiro eu notei o sorriso. Educadamente me apresentei(por mais incrível que pareça, dizer oi, me nome é .... sempre é um bom começo).

Então escutei aquele sotaque. Não apenas, a postura já me dizia algo. indaguei:

- Liverpool! Você é de Liverpool!

- Quase - ela respondeu sorrindo.

Tal como a maneira de falar o inglês perfeitamente claro sem qualquer gíria, a postura corporal de alguem confiante em sí mesma o suficiente, de costas ereta e prestando atenção a tudo, segurando a taça de vinho como se tivesse aprendido a se portar socialmente em todos os detalhes desde sempre. Os cabelos presos de forma a não mostrar sua total beleza a qualquer um. Mas a real beleza aparecia quando a conversa começava. Muito além de seus cinco idiomas fluentes, sua experiência em oxford. Não estou falando de curriculum social. Estou falando da beleza de alma, como de uma pessoa que você sabe que quando decide, existe 100% de parceria e cumplicidade. Conversamos a noite inteira. Uma moça muito divertida, passeando em Amsterdam. O fato, é que tivemos realmente uma conversa profunda em muitos aspectos. Eu desfiz a postura do indecifrável viajante cigano, ela desfez o olhar crítico pelo olhar de ternura. Ela estava de partida de volta para a Inglaterra no dia seguinte. Quando a noite acabou, ela perguntou se eu queria descansar um pouco no lugar em que ela estava hospedada. Afinal, seria difícil pra mim retornar para a minha cidade, 60 km ao sul de Amsterdam.

Mas acalme-se, leitor. Meu lugar, obviamente, foi no sofá. Não antes de ser presenteado com um bom chá e uma finalizada conversa com um "boa noite" regado a um singelo beijo e um afago no meu rosto.

Pela manhã, enfim vi aquele lindo cabelo solto. De fato, eu acordei com a dona do cabelo me observando enquanto terminava de mexer seu café. Teci um comentário sobre acordar com uma beleza daquelas me olhando. Um sorriso despretencioso surgiu por de trás dos cabelos louros.

Já de malas prontas para o aeroporto, ocorreu aquele suspiro mútuo. Ela parou sem dizer uma palavra na porta, me olhando fixamente. Não sei quanto tempo isto durou, mas lembro dos olhos verdes daquele momento até agora. Eu Sentado completamente bagunçado, sem camiseta, todas as tatuagens e cicatrizes da vida á mostra.

- nunca imaginei conhecer alguém como você. Espero que venha me visitar, Brasileiro. Não acho que você irá sumir.

- Pode esperar. Você sabe que isso aqui não terminou - Ela ria do meu comentário.

Como dizia meu colega de trabalho Italiano e viajante do mundo por décadas, meu amigo, se você nunca teve ao seu lado o coração de uma britânica sua vida não foi completa.

Agora acho que eu comecei a entender. Apenas não sei o final desta história.

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 25/09/2017
Reeditado em 25/09/2017
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