Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro

Seguindo o conselho do grande filósofo Djavan, todas às vezes que a temperatura cai, vou à biblioteca mais próxima e escolho um bom livro para ler.

Hoje, após 37 dias de seca, o paulistano voltou a usar o guarda-chuva e a “brusinha”, pois uma leve garoa veio nos visitar na tarde dessa quinta-feira. Enroladinha na cobertinha de oncinha e deitadinha no meu sofazinho, viajei na minha leiturazinha.

Era uma vez, há muito tempo atrás, numa terra distante chamada Perseguida, vivia uma linda donzela de codinome Beth. Ela era linda! Tinha os cabelos mais coloridos do que a bandeira do orgulho gay e mais armado que lona de circo Vostoky. A rapadura do Nordeste não era doce como seu sorriso, nem o cheiro do rio Tietê recendia na cidade como seu hálito perfumado. Mais rápida que bala perdida, a morena virgem corria pelas ruas da pacata cidade, onde campeava seus bofes (homens) encantados. O pé grácil e nu tocava as pedras soltas das ruas esburacadas fazendo-a soltar gritinhos mais sonoros que sininhos natalinos. Um dia, ao pino do sol, ela tirava uma pestana (dormia) em um claro da floresta que circundava a Perseguida. Era uma mata densa, onde os habitantes a batizaram de Monte de Vênus. Banhava-lhe o corpo a sombra da jaqueira. Beth saiu do banho, o alforjar d’água ainda a rorejava. O gracioso Antonio Carlos, seu sapinho companheiro e amigo, brincava junto dela. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos que o sol não deslumbra. Sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está Leonardo de Caprio. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas do Atlântico. Ignotos carvões e papéis ignotos nas mãos. Ele se aproxima e diz:

- Rose! Rose! Rose! Meu amor, o Titanic parte em dez minutos. Vamos meu bem, tenho que desenhá-la antes que vem a catástrofe. – Foi rápido, como o olhar, o gesto de Beth. Em menos de três segundinhos lá estava ela em uma das cabines do lendário navio, bestificada com o imenso Iceberg de Leonardinho de Caprio. Viveram momentos pra lá de românticos. O orgasmo foi tão intenso que ela só se deu conta quando viu os destroços do navio espalhados pelas gélidas águas do Atlântico. Seu príncipe plebeu Jack Leonardo havia desaparecido e ela estava ali em alto mar, sozinha naquela noite escura, mas estrelada, agarrada em uma tampa de privada que servia como bóia. De repente, não mais que de repente, eis que surge Tom Hanks de jangada improvisada oferecendo-lhe uma carona. Foram parar em uma ilha deserta e ali viveram outra longa história de amor. Que José de Alencar abençoe esta união, amém.