Fica comigo, meu mel

- Fora, inútil, fracassado, fora, fora... zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

- Nããããããããããoooo. zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Os gritos de revolta das abelhas operárias expulsando o meu grande amor Marco Pigossi Zangão, ainda ecoam em minha mente como sinos das catedrais anunciando a hora da Ave Maria. Foi exatamente à 18:00 horas quando o sino da igrejinha que fica ao lado da colmeia bateu, Pigossi foi banido de vez da nossa sociedade e eu como rainha não pude quebrar a tradição...

Tudo começou quando eu era apenas uma larva recém-nascida, após quinze dias de gestação. Mamãe, já velha e cansada pediu para suas operárias construírem uma célula especial para mim. Fui criada com uma atenção especial, digna de qualquer princesa. Sendo alimentada com geleia real e paparicada por todos da comunidade. Assim que fiquei forte e consegui voar, mamãe me chamou para ir até o seu aposento com a minha melhor amiga Melissa.

- Beth, meu tempo de vida está esgotando. Vivi os meus cinco anos em prol do bem-estar da colmeia. Preciso prepara-la para assumir o trono.

- Mas, mamãe. Eu queria dar um rolezinho antes lá fora com a Mel pra conhecer as redondezas.

- Uma rainha só pode sair no dia do vôo nupcial.

- Nupci... o que?

- Saberá no tempo certo. – E virando-se para Mel completou – Melissa mostre a ela um pouco do nosso reino.

- Com prazer, Majestade.

Melissa me levou para fazer um tour pela colmeia. A cada repartição ela me contava um pouco mais sobre as funções das operárias. Quem eram as responsáveis pela limpeza dos alvéolos e de abelhas recém-nascidas. Quem cuidava da alimentação. Quem produzia cera e construíam os favos. Me apresentou a equipe de defesa da colmeia e não me deixou ir com as operárias campeiras.

- Mas eu poderia ser útil na coleta do néctar, do pólen, da resina e da água. Por favorzinho... deixa.

- A rainha Paula Abelha vai me dar uma ferroada se eu a deixar ir. Você só poderá sair no dia do vôo nupcial.

- Que raio de vôo é esse?

- Venha comigo. Vou te mostrar uma ala diferente. Quero apresenta-la aos Zangões.

Minha amiga Melissa me levou até um lugar que mais parecia um bar. Cheios de Zangões sendo tratados pelas operárias. Além de receber alimento ainda reclamavam o tempo todo. Eu é que fiquei zangada... puta da vida.

- Quem são esses folgados? Não trabalham, recebem comida na boquinha e ainda reclamam? Qual é a função deles Melissa?

- A função deles é somente fecundar a rainha.

- O que?

Melissa estava se preparando para me explicar quando foi interrompida por um zangão asqueroso.

- E aí Chuchu! Como vai? Chega aí pessoal. Olha só, vem ver. Acaba de chegar no pedaço a rainha que vai participar da suruba com a gente.

- Do que ele está falando, Melissa – Perguntei entre os dentes pronta para dar ferroada naquele cara chato.

- Beth, esses são os candidatos para a grande corrida. Todos eles têm como objetivo te fecundar.

- Como assim? Vou ter que transar com todos eles? É isso? Céus, são centenas deles. Então, é isso que você e mamãe chamam de vôo nupcial? Um monte de Zangões querendo me comer? Tô fora. Eu não vou dar conta...

- Todos participarão da corrida, Beth, mas só dez te fecundará.

- E eu serei o primeiro, belezinha. Vou me lambuzar nesse corpinho virgem.

- Mais respeito com a princesa, Kid Abelha. – Aproximou-se uma abelha diferente que fez meu coração disparar. Ele veio em meu socorro. Me livrou das asas do malvado Zangão Kid Abelha e se apresentou com muita educação.

- Peço desculpas pela falta de modos do meu amigo, princesa. Eu sou o Zangão Marco Pigossi. Será uma honra participar do vôo nupcial contigo.

Ai, gente! Pára tudo! Que fofo. Me apaixonei. Marcos Pigossi tinha a "Força do Querer" bem. Então , mamãe morreu. Chegou o dia da grande corrida. Era um dia quente, ensolarado e sem ventos fortes para atrapalhar. Melissa me contou que eu tinha que correr na frente e liberar meus hormônios para deixar os zangões loucos, excitados, de pau duro. Os dez mais fortes iriam me alcançar e consumar o ato. Mas, uma coisa me preocupava. Melissa também me contou que depois de me comerem todos eles iriam morrer. Eu não queria matar Marco Pigossi. Foi dada a largada. Cheguei a ouvir a música do Ayrton Senna enquanto voava, mas isso não vem ao caso agora. Meu amado Pigossi foi o primeiro a me tocar. Foi bem carinhoso. Enquanto os outros nove “bruta montes” tiveram ejaculação precoce e morreram na hora. O malvado Kid Abelha se perdeu na corrida e foi pisoteado por um humano. O Zangão Pigossi não morreu, mas para a minha tristeza, Zangão que não morre na hora da transa, tem que ser expulso da colmeia.

- Meu mel não diga adeus. Eu tenho tanto medo de ficar sem o seu amor. E pra sempre ser um ser só...