O MININU E O SABIÁ - Para se refletir

- Oi, Poeta Caipirinha! Posso trocar um dedo de prosa com o sinhô?

- Craro minino Zequinha! Como que tá seu pai, o cumpadi Zeca Barbêru?

- Tá bão! Mandô um abraçu pra voismicê!

- Diga que tô agradicidu e que ele apareça pra tomá uma pinga da boa e trocá umas prosa mais iêu!

- Vou falar com ele sim senhô!... Mas olhe Caipirinha!... Tenho uma coisa pra contá ...

- Intão, tá, intão! Sorta o bicu menino!

- Olha só! Eu tava vindo para cá, proseá com voismicê, quando ali na varanda, bem no cantinho, estava um sabiá caído, com a asa quebrada e os olhinhos fechados.

Peguei o bichinho, coloquei na minha perna para ver se podia fazer alguma coisa para ajudar... Então ele abriu os olhinhos e disse para mim que estava morrendo ...

Eu perguntei o que aconteceu e ele, com a voz fraquinha me contou ...

- Menino!... Eu estava voando de volta pra casa, minha companheira sabiá estava lá no ninho, com dois sabiazinhos pra alimentar ... mas no meio do caminho, um menino mau, com coração cruel, acertou uma pedra com um estilingue, bem na minha asa e caí lá de cima da figueira e me estatelei no chão ... Consegui, pulando e pulando, chegar até aqui, mas não consigo mais voar ... minha hora já chegou, estou com fome e com sede, minha vida está acabando, estou morrendo menino e você não pode mais ajudar!

Eu então disse pra ele, que eu podia ajudar, que ia sua asinha cuidar, tinha remédio pra passar ... Coloquei ele de volta no chão, agora sobre algumas folhas, pra ficar deitadinho no macio e quando ia saindo para buscar alguma coisa para tentar sua asinha cuidar, ele me chamou ...

- Ei menino ... o que é isso aí no bolso de trás da sua calça?... Não é uma atiradeira?...

- Eu fiquei tão sem graça e respondi ... - Eu peguei de um menino que estava atirando pedras nas árvores ... Onde já se viu ... Podia acertar um passarinho e machucar o bichinho ...

- Intão foi esse menino que me acertou ... (disse o sabiá, com a voz já mais fraquinha)... Ele é mau. Não sabe que isso não se faz ... que mal eu fiz a ele e aos outros meninos que gostam de usar atiradeira, estilingue para machucar nós, os passarinhos. Não fazemos mal a ninguém ... só cantamos ... cantamos ... cantamos ...

Acho que estou indo ... estou me acabando ... Estou triste com esse menino mau ... Estou morrendo por causa da sua maldade ... Já vou! ... Diga ao dono deste estilingue, que ele matou um passarinho que era tão feliz com a minha companheira sabiá e que tinha dois sabiazinhos que ainda nem sabiam voar ...

E que precisava do pai sabiá para muito lhes ensinar ... Diga a ele que ele é mau e cruel ... Adeus meu amiguinho ... Adeus ... vô triste, pois eu ainda tinha muito o que fazer, muito o que cantar e a natureza alegrar ... A..d...e...u...sssssssss

- Então Caipirinha, cavei uma cova em baixo da figueira, cobri com umas folhas e umas florzinhas, coloquei o corpinho do sabiá e cobri com folhas e terra pra ele lá descansar ...

- Por causa di quê ocê pregô mentira pro sabiá, Zequinha? Pois foi ocê quem acertô o bichinho cum sua atiradêra e dirrubô ele da figueira?

- Fiquei envergonhado e arrependido ... Foi sem querer?

- Seim querê!... Ocê tava atirano pedra com atiradeira e diz que foi seim querê ... Ocê é um menino mau, Zequinha!... E iêu tô muito triste cum ocê ...

- Ocê sabe como vive os passarinho?

- Eles come comida ... Que neim nois!

- Eles bebe água pra matá a sede... Que neim nois!

- Eles respira ar pra sobrevivê ... Que neim nois!

- Eles anda com as perninhas... Eles usam as asinha e nois as mão e os braço ... Eles olham com os olhinhos ... Que neim nois!

- Eles cantam ... eles brincam ... eles teim companhêra, eles tem filhos ... Que neim nois!

- Eles são tudo filho di Deus ... Que neim nois!

- Pru que nois tem que ficá judiano dos bichinhos, matano eles com estilingue ou atiradeira ... Pru que?

- Pru que nois é diferente de tudo que teim na natureza? ... Pru que?

- Pru que os bichu, os animár são tudo miõ que nois!... Nois mata, nois faiz mardade, nois judia de tudo...

- Os bicho não! Eles só faiz sobrevivê ...

- Ocê tem razão Poeta Caipirinha ... Tô muito arrependido de te matado aquele bichinho ... Eu nunca mais vô saí com estilingue e vou brigar com os meninos que brincam com isso e sai para matar passarinho!

- Faça isso, Zequinha! ... A natureza vai agradicê a ocê... e os passarinhu tameim!

- Vou indo, Caipirinha!... Vou pra minha casa!... Estou triste por ter matado um sabiá ... que só sabia os meus dias alegrar, a manhã inteira, no galho da figueira.

- Pois vá, menino Zequinha!... E nunca se esqueça do seu sabiá!

Pessoá!... Vâmu cuidá da natureza, educando os menino pra num martratá os bichinhu! E insiná a eles a tê mais amô no coração!

Inté intão e um abraçu du Caipirinha!