O DELEGADO E A CARREGADEIRA DE CANA

A tecnologia e o desenvolvimento tem mudado a vida e os costumes das pessoas, para melhor ou para pior em todas as áreas, na agricultura não poderia ser diferente.
   
Vou contar um fato relacionado a cultura de cana de açúcar, mas antes, é necessário fazer uma breve apresentação de uma máquina que era muito utilizada nos canaviais.
   
Hoje em dia, com a mecanização uma máquina corta cana por um batalhão de trabalhadores manuais, ao mesmo tempo joga a cana cortada em cima do caminhão, dispensando uma segunda etapa que seria o carregamento, agilizando a colheita, com a vantagem de não ser necessário queimar o canavial, contribuindo assim com o meio ambiente, pois diminui a poluição do ar e a degradação da terra, causadas pelas queimadas.
   
Antes dessa mecanização, na década de 1980, para colher a cana era necessário o emprego de muitos trabalhadores rurais chamados boia fria que depois de queimado o canavial, usando facão cortava a cana que deixavam deitada no chão. Aí entrava em serviço a carregadeira, que pegava essa cana e colocava em cima do caminhão, fazendo a carga.
 
Essas carregadeiras, em sua maioria eram braços hidráulicos adaptados na parte traseira de um trator comum. Para que o operador pudesse ver o que estava fazendo, os comandos do trator, direção, pedais e câmbio eram invertidos, ou seja, virados para trás, de maneira que quando a carregadeira ia para frente, para pegar a cana e depois se aproximar do caminhão, o trator ia de ré, quando ela se afastava do caminhão para nova operação, o trator andava de frente. Essas máquinas só ficavam na lavoura, dificilmente iam até a cidade.
    
Numa pequena cidade do interior, existia um delegado muito rígido, exigia o cumprimento da lei à risca. Uma coisa que tirava-lhe o sossego era a lei de transito.
   
Sendo uma cidade pequena, com poucos veículos com o mínimo de transito, os motoristas e proprietários de veículos pensavam que podiam estacionar em qualquer lugar, sem se importar se estavam na mão certa ou na contra mão, pois não iria atrapalhar já que havia pouco movimento.
   
O delegado pensava diferente. Sendo a cidade pequena, com poucos veículos tinha espaço de sobra para estacionar na mão certa, não havia porque estacionar na contra mão. Ele não perdoava e as multas eram frequentes.
   
Com o tempo os proprietários de veículos sentindo no bolso, foram se acostumando a estacionar corretamente.
Nessa cidade, em frente a delegacia, havia uma oficina auto elétrica.       
Um certo dia, uma dessas carregadeiras apresentadas acima, estacionou em frente a oficina, pois precisava de reparos. De sua sala, pela janela o delegado viu aquela máquina estranha e ficou intrigado, foi até a oficina, muito educado e cortes como sempre, cumprimentou o proprietário:
-- Bom dia seu José, como tem passado?
-- Bom dia doutor, eu, bem, e o senhor?
-- Bem.
-- Seu José, por favor, esclareça-me uma dúvida.
-- Pois não doutor.
-- Seu José, onde é a frente dessa máquina?
   
Seu José que gostava de coisa mal feita e também conhecia bem o delegado, respondeu:
-- Doutor, a frente do trator é para direita, mas a frente da carregadeira é para esquerda.
 
O delegado olhou para a máquina, pensou por um momento..., agradeceu o seu José, e voltou para delegacia sem definir se a máquina estava estacionada na mão certa ou na contra mão.
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 23/10/2017
Reeditado em 26/11/2020
Código do texto: T6150313
Classificação de conteúdo: seguro