Respeite a minha cor

Era um fim de tarde na cidade de Salvador, o sol já estava se pondo e a noite prestes a cair. Numa avenida muito movimentada estava Bruno, rapaz alto, negro, com olhos escuros como uma jabuticaba. Ele estava sentado no ponto de ônibus, com expressões cansadas resultantes de um longo dia de trabalho.

Passaram-se minutos e Bruno ainda estava à espera de seu ônibus passar, todos já haviam ido embora, a noite caíra e ele foi o único que sobrara. Indo na direção do ponto de ônibus estava uma senhora, vestida de roupas luxuosas, sacolas de compras na mão aparentemente pesadas e uma expressão de arrogância no olhar. Ao chegar próximo do ponto, avistou que tinha espaço para sentar e colocar suas compras para descansar as mãos. Prestes a sentar, hesitou e viu que ao lado estava Bruno. Desistiu e continuou em pé, segurou com mais força as sacolas e guardou o celular na bolsa.

Bruno olhou disfarçadamente para a mulher, reconhecendo a mesma atitude que vez ou outra acontecia com ele. Seus pensamentos foram interrompidos ao avistar seu ônibus chegando. Levantou, pegou sua mochila e deu com a mão para o transporte parar. Por coincidência, a mulher estava na espera do mesmo ônibus, passou rapidamente na frente de Bruno e logo adentrou no transporte, com uma expressão de preocupação.

Apenas duas cadeiras estavam disponíveis, uma do lado da outra. A senhora ocupara uma e Bruno, ao entrar no ônibus, sentou-se ao seu lado. Um minuto depois, a mulher levantou e ficou em pé, olhando com certo desprezo para o rapaz.

Numa parada, adentrou no ônibus um casal de idosos. Bruno levantou seu lugar para que os dois pudessem sentar. Ao lado da senhora em pé ele ficou, pois era próximo da saída do ônibus e se este enchesse, ficaria fácil dele descer quando chegasse no destino. Demonstrando indignação com tal ato, a senhora olhou para Bruno com um olhar de raiva e disse grosseiramente:

-Ora! Está me perseguindo? Vou chamar o motorista e dizer que você está me incomodando, quem já viu isso? Parece que sua raça não se enxerga. Daqui a pouco vai querer me assaltar!

Repentinamente, ao ouvir tais palavras, todas as pessoas presentes pararam para olhar a cena, indignadas e revoltadas com o que acabara de acontecer. Já exausto de um dia puxado de trabalho, estressado com a longa rotina, Bruno respondeu:

-Trate-me com respeito, não conheço a senhora e não dei a você espaço para referir-se a mim desta maneira. Sou humano como qualquer um, sinto as mesmas dores que qualquer um, respiro como qualquer um, ando, bebo, trabalho, fico feliz, triste, como qualquer um! Cor de pele não define caráter. Cure sua ignorância e repense os seus conceitos, porque caráter ruim aqui só estou vendo o seu. Respeite quem eu sou, respeite a minha cor!

Uma onda de aplausos eclodiu no ônibus, todos contemplaram a resposta dada por Bruno. A mulher, sem reação para a resposta inesperada, solicitou a parada e desceu rapidamente. As pessoas começaram a levantar e a parabenizar Bruno pela coragem e firmeza.

A partir desse dia, diversos cartazes começaram a ser colados nos ônibus com campanhas contra o preconceito, com a data do ocorrido com Bruno e com sua frase “respeite a minha cor”.

Eduaraujj
Enviado por Eduaraujj em 07/11/2017
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