Desculpe a bagunça!

Uma vez aconteceu algo comigo que só de me lembrar, eu já entro em pânico. Era noite e eu estava em casa sozinho. O silêncio reinava, enquanto eu “namorava” a madrugada, tentando “engravidá-la” de alguma obra nova. Nem os grilos, que costumavam aparecer por ali pareciam querer dar as caras. Eu estava na sala de estar, vendo TV, quando ouvi um barulho lá fora, que cortava o delicioso silêncio. Fiquei assustado e dali a pouco, outro barulho. Percebi que vinha dos fundos da casa, então fui verificar do que se tratava. Olhei lá fora e tudo estava em ordem. Voltando para a sala, eu notei que a maçaneta da porta estava girando bem vagarosamente e antes que eu pudesse evitar o “desastre”, aquela criatura surgiu diante de mim. Tentei lutar contra ele; tentei colocá-lo para fora, mas sem sucesso. Sua força era bem maior que a minha e meu maior receio era que meus caríssimos objetos fossem danificados. Infelizmente, não deu outra! Percebendo a importância que eles tinham para mim, o bandido me deu um soco, nocauteando-me. Meus braços e pernas foram atados e minha boca, tampada com fita isolante. A dor física que sentia não se comparava à de vê-lo destruindo meus valiosos objetos. Cada vez que um deles caía no chão, espatifando-se, eu sentia mais raiva. Era um misto de rancor e tristeza, por ver minha sala toda bagunçada e meu cérebro todo quebrado. O bandido fez questão de quebrar também meus pulmões, um dos meus rins e o pâncreas. Entretanto, o pior ainda estava por vir: ele olhou bem nos meus olhos, enquanto pegava o meu coração de vidro, deu um sorriso diabólico e o jogou no chão. O bagunceiro ainda vasculhou-me as gavetas, tentando roubar o que para ele poderia ser de valor. Levou-me os diamantes e uma boa quantia em dinheiro vivo. Antes de sair, ele me disse que eu deveria ter trancado a porta, pois já vinha me observando há dias; sempre de olho nos meus hábitos, principalmente os noturnos. Ironicamente, o pilantra ainda disse a seguinte frase: “Desculpe a bagunça!” e foi embora, batendo a porta. Minha casa virou um campo de guerra. Parecia que um terremoto havia passado por ali; ou talvez um furacão de nível máximo. Depois de bastante tempo, consegui (com certo sacrifício) me livrar das amarras e fui limpar o caos. Enquanto recolhia os cacos das xícaras, eu me lembrava do conselho do vilão e suas palavras ecoaram no meu destino. Depois de tudo, aquelas xícaras de valor sentimental foram restauradas. Já no dia seguinte, comprei uma cola que uniu cada pedaço delas. Mesmo assim, aquilo não enganava meus olhos, pois as rachaduras eram visíveis e toda vez que eu olhava para elas, eu me lembrava do ocorrido. A única que não consegui recuperar completamente foi a do coração. Ficou faltando uma parte que não sei se ele levou consigo ou se ficou perdida no meio da “tempestade”.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 14/11/2017
Reeditado em 14/11/2017
Código do texto: T6171616
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