As incertezas de Leoberto
Para qualquer motorista na estrada, o andarilho à beira do caminho nada significa: Ele não tem nome, voz, vida. Só uma forma esguia que carrega nos ombros uma mochila surrada e a passos lentos galga os quilômetros infindáveis da rodovia. À primeira curva lhe esquecem.
Ele se chama Leoberto, tem uma vida (ou tivera, num passado há muito deixado para trás) e milhares de vozes ecoando em sua mente e enquanto caminha a passos desapressados sequer nota os veículos que por ele cruzam em ambos os sentidos.
Seus olhos ofuscados pelo sol poente que banha o asfalto acostumaram-se a ver sempre além das próximas curvas, estão sempre distantes, caminham milhas à frente dos seus pés, enxerga as cidades, as fazendas ou motéis de quinta onde passará uma hora, um dia, um minuto. Mas nunca deixa o olhar se estender meses ou anos a frente, porque o futuro é pura invenção, dúvida, crendice.
Criou para si a certeza (contrária a todas as incertezas com as quais convive se alimenta e se aquece a noite) que o futuro é uma parede em seu caminho com a qual poderá se esbarrar e cair para trás, uma mesa confortável na qual sentará, se fartará e onde não poderá mais levantar, uma casa monstruosa com apetite voraz que se erguerá a sua frente para lhe abocanhar... Uma prisão que sob inúmeras faces se levanta em algum lugar nas terras mais distante que um dia alcançará pronta para lhe agarrar com braços de grades e tijolos maciços.
Ele teme a chegada desse dia, mas ciente que como a morte cedo ou tarde também tem sua hora prossegue a caminhada, prudente que deve viver ao máximo antes desses infaustos dias.
Leva uma vida pacata; de uma cidade a outra; trabalhando como chapeiro numa hamburgueria, como auxiliar de pedreiro na construção um conjunto de casas populares, como garçom em bares nos centros ou em barracas de praia, faxineiro em um motel e outras vezes apenas senta-se num banco de praça ou mesmo defronte ao mar com um olhar distante, um cigarro na mão e a mochila desgastada descansando ao seu lado a paisagem.
Na pequena cidade de Macaú não havia vagas para nenhum trabalho temporário, sendo assim apenas caminhou pelas ruas do centro sentindo os olhares de esguelha de alguns moradores e de dois guardas-municipais e por fim sentou-se no chão à sombra de uma grande mangueira no centro de uma praça.
Com um olhar disfarçadamente aguçado observou algumas crianças que sob o olhar vigilante das mães brincavam num playground, a rua movimentada pelo ir e vir tantos veículos, homens engravatados ao celular, trabalhadores ambulantes, mulheres, estudantes sorridentes, brincalhões e barulhentos, outros taciturnos; viu a si como um cientista a analisar uma colônia de formigas numa caixa de vidro: andam de um lado a outro, parecem apressados. A seu ver, parecem caminhar em círculos.
Entre seus dedos o cigarro morreu num toco negro, lançou-o longe.
Levantou-se limpando a poeira nos fundos da calça e com a mesma significância de um inseto que voa e pousa de uma folha para outra partiu.