Eu gosto é de gente doida!

Lá estava eu tocando punheta de novo. Eu podia me ver no centro da sala suando feito um porco. Meu pau estava até calejado de tanta bronha, mas mesmo assim eu tocava uma todos os dias. Acendi um cigarro e pensei “que merda”. Eu deveria é arranjar uma mulher e fazer isso com ela ao invés de só ficar atrás de garotas de 13 anos e trepadas atrás dos muros dos botecos. Mas eu não tenho paciência para aturar uma garota por mais de uma semana. Já tentei muito e nunca deu certo. Todas são iguais. Elas dizem que os homens são todos iguais mas se acham diferentes umas das outras. Todas gostam de sapato, todas gostam de gatos, todas gostam de filmes românticos e todas gostam de uma pica grossa. Eu só dou o ultimo item para elas. Esta bom assim. Mas depois de uma semana elas me enchem o saco. E eu encho o saco delas. Sentimento reciproco.

Dei umas baforadas e olhei para o relógio. Duas da madrugada. Eu não precisava acordar cedo. Estava morando com a minha tia. Ela trabalhava e eu dormia. Me sinto um parasita as vezes, mas isso logo passa e a vida continua. Coloquei um Slayer pra ouvir. Esse som me relaxa, me faz deixar os problemas pra depois. Fiquei ouvindo baixinho até a fita acabar. Estava frio. Eu me cobri, deitei no sofá e dormi. Nem me lembro se sonhei aquela noite, mas deveria ter sonhado. Alguma coisa me dizia que seria a ultima noite de sono gostoso que eu teria em muito tempo.

Quando acordei não havia ninguém em casa. Fiz um sanduíche e fumei mais um pouco. Fiquei assistindo televisão. Uma derrota no vôlei, uma medida provisória sobre não sei o que para ser votada na próxima semana, um garoto aleijado e cego que perdeu os pais, uma enchente na zona sul. Mudei de canal. Um japonês tentando converter pessoas para uma igreja, dizendo que ia benzer alguns copos de água. No outro canal uma homenagem ao aniversario de Alfred Hitchkock. Uma mulher gostosa vendendo aparelhos de ginastica, um hotel pousada, um tiroteio no Rio, os Simpsons. Desliguei a droga da tv. Troquei de roupa, juntei uns trocados e saí. Andei até a Paulista, fiz um jogo na esportiva, comprei um maço de cigarros e uma coxinha. Ainda era Quarta-feira. A noite teria de ir na faculdade. Nem sei se me formo um dia. Não sabia se me formaria um dia desses. Era a quarta faculdade que eu fazia. Estava apenas com 21. Até que era bom aluno, mas sei lá, talvez eu queria um pouco de incentivo. Não sei ao certo o que ou como. Não vou me preocupar com isso. Não me preocupo com nada. É o que as pessoas dizem. Mas eu me preocupo sim. Nesse momento, enquanto voltava pra casa, estava preocupado com uma garota de que eu gostava, com minhas notas na escola, com meus escritos todos fora de ordem, com um emprego de merda que eu deveria arrumar. Com um certo desanimo que tomava conta de mim. Estava preocupado com varias coisas. Mas não havia nada que se pudesse fazer. Então eu fazia as coisas quando tinha que fazer algo. Na hora. Na lata. Assim, do meu jeito, afinal é minha vida. É como a própria palavra diz: pré ocupação: ocupação antes do tempo. Eu é que não iria esquentar a cabeça com as coisas e os problemas antes da hora. Mas eu me preocupo sim. As vezes até demais.

* * *

a pior coisa é você estar de rabo preso com alguém. Eu odeio dividas, mas não há como escapar delas. Na Roma antiga eles deixavam o cara nu em praça publica e gritavam que ele era um caloteiro e o cara não podia mais cortar o cabelo ate pagar a tal divida. Todo cabeludo era um caloteiro. Um cabeludo que não pagava as contas, um peladão.

Encontrei o Joe no caminho de volta. “ei Joe”. Joe tava velho, sem nenhum fio de cabelo. Mas a careca dele não brilhava. Não era como a careca desses intelectuais chupadores de cu. Era uma careca honesta. Uma boa careca. Senta aí, cara, que eu vou te mostrar uma coisa. Joe tirou uns textos do bolso do paletó. Ele já estava escrevendo fazia um tempo. Ele gostava de escrever. Não era uma coisa grandiosa, mas eram bons contos. Contos quaisquer, legais. Mas o Joe não tomava cuidado com a coisas. Ele perdia tudo. Mijava nas calças e molhava tudo. Documentos, dinheiro, contos. E ele continuava bebendo e escrevendo. Joe me lembrava Bukowski. Joe era Bukowski. Joe faria sucesso se não fosse paulistano, se não fosse tão bêbado, se não fosse tão fedido e se ele quisesse também. Joe não queria fama. Joe só queria sossego. E eu também. Não queria porra nenhuma, só sossego. A diferença entre eu e Joe era que ele tinha sossego e eu não. Eu não tinha nada.

Fumamos uns cigarros e demos uns tragos de conhaque. Estava doce e esquentava bem nesses dias frios. Nesse tempo de aniversario do Hitchkok. Nesses dias em que as pessoas gostam de ir pra cama e lerem um bom livro que irá xinga-las em todas as linhas e os tarados gostam de se esquentar nas pernas das meninas colegiais. Nesses dias que as cores das gravatas mudam e os canos estouram nas ruas. O pobre não morre mais de fome e sim de frio. O inverno é bom pros capitalistas. Morre um mendigo ou mais por dia. Bem mais. Nesses dias eu e Joe tomávamos café e conversávamos sobre as bucetas das meninas, sobre a inflação, sobre o futuro, sobre nossas famílias, sobre a densidade populacional na Letônia, sobre Edgar Allan Poe, sobre todas essas merdas que vem na cabeça da gente quando tomamos café. E fumávamos cigarros. Muitos cigarros. Iríamos morrer disso. Sabíamos. Foda-se.

Despedi-me de Joe. Tinha de ir a faculdade. E ele também. Nos encontraríamos um dia desses e beberíamos mais café e comeríamos mais tapioca. Essas coisas.

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Tive de ir no cartório autenticar uns documentos para minha tia. Devia ser o cartório com a fila mais comprida do mundo. Era a primeira vez que eu tinha que esperar realmente cerca de cinqüenta pessoas serem atendidas uma a uma, com aquelas caras de bostas sonolentas. Ate que tinha uma gostosinha lá e eu fiquei olhando pra ela, mas ela não me deu muita bola. Ficou mexendo no cabelo como fazem todas as mulheres que sabem que estão sendo observadas. Coisa estranha, mas a psicologia explica. Todas fazem isso. Ela não apontou os pés pra mim então decidi deixa-la em paz. Quase duas horas sentado na mesma droga de lugar sem me mexer a não ser pra acender e fumar uns cigarros. Já tava com meu material pra ir a escola. Quando saí de lá fui no trabalho de minha tia e entreguei pra ela as copias. Os caras do cartório erraram tudo: autenticaram duas ou três copias de cada coisa. Ficou uma nota. Ela reclamou da falta de grana e eu fui embora.

No caminho vi uns caras lavando um carro num posto. Daqueles tipo lava rápido. Devia ter uns cinco caras lavando o carro. Tinha um que só dava tapinhas com o paninho porque nem tinha espaço pra ele lá. Emprego de merda. Mas eu queria um desses. Pra não fazer nada e ganhar uma grana pra comprar minhas bebidas. Realmente ficar escrevendo pra um magazine ou outro não dava lucro nenhum. Só dor de cabeça. E eu não tava precisando de dor de cabeça. Já tinha o suficiente. Peguei o metrô e saí dali. Não queria mais problemas, nem queria pensar em nada, somente ir pra faculdade e ler alguma coisa e pensar num meio de ludibriar o sistema. Só assim eu ia ganhar uma grana boa, só ludibriando o sistema.

No metrô encontrei outra gostosa. Vivo encontrando gostosas. E elas nunca querem dar pra mim. Preciso parar de pensar em sexo a todo momento. Não agüento conviver com mulher nenhuma. Só gosto mesmo é de trepar. Ainda bem que minha garota mora longe, senão eu iria largar dela. E eu gosto dela. Mas já fazia um bom tempo que eu não escrevia nenhuma cartinha. Qualquer dia eu faço isso. Tenho de fazer, não é?

Não sei se eu presto, mas eu gosto de encoxar gostosas no metrô. É bacana. Mal desci na estação e vi uma maquina de vender livros. Não tinha muita coisa interessante. Uns livros do Machado de Assis a cinco paus e uns do Paulo Coelho também a cinco. O Fernando Pessoa até que é legal, mas eu não leio isso. E eu nunca pagaria cinco contos num livro do Paulo Coelho. Nem de graça eu gosto muito. É o tipo de livro que quando eu ganho eu dou de presente pra alguém. Não gosto nem de deixar na estante.

Tinha uns livros do Sherlock Holmes. Coisa boa. A três paus. Qualquer dia eu volto lá e compro um. Esse vale a pena. Um garoto até me perguntou se eu conhecia algum livro pra indicar pra ele. Falei do Machado e do A. C. Doylle. Mostrei os lixos pra ele. Entrei no trem com outra gostosa. Sempre pego o vagão que tem mais gostosas. É uma doença. Uma doença chamada pinto duro. E eu sofro disso. Bastante.

Na faculdade como um cachorro quente e entro pra dar uma lida nuns livros. Raízes do Brasil, do Sergio B. Holanda, boa leitura; Universo Elegante de um tal B. Greene, interessante; mas nada ligado ao meu curso. Pego esses dois livros e resolvo levar pra casa. Vou lê-los. Quando terminar faço alguma coisa. Não vou fazer planos, a vida passa pelas pessoas enquanto elas fazem planos

Cachorro quente me dá vontade de fumar. E fumar me dá vontade de Coca Cola. Quando estou bebendo a maldita tenho que comer um chocolate. Porque será que não há nada melhor nesse mundo do que Coca com chocolate? E eu já procurei. Só que chocolate me dá vontade de fumar, e fumar me faz beber Coca e assim vai. Que delicioso circulo mortífero. Mas eu poderia viver só disso. Só isso, cerveja, anfetaminas e prostitutas.

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Fumei um cigarro. Bundas. Bundas loiras, morenas, algumas ruivas. Outras gordas. Feias e bonitas. Bundas que não tomam banho. Bundas sujas. A maioria. Muitas bundas sujas. Esse pessoal tem um jeito que não lavam direito suas bundas. E não sabem se vestir. Eu nunca liguei pra roupa, mas tudo que eu coloco fica bom. Mas os outros não levam jeito. Não adianta insistir. Uma garota com uma camiseta escrito Bys Boy. Bys Boy de merda. Bys.....cate. todas são biscates. Todas as mulheres. Menos minha garota. Eu gosto disso. Vivo num mundo de putas e perdedores. O laboratório de informática estava vazio. Com um ar condicionado que lembrava muito o Alaska. Podia-se nadar pelado no Yukon e não iria se passar tanto frio quanto dentro daquela bosta de laboratório. Essas pessoas não tem senso. Ligar esse ar nessa temperatura tão perto do aniversario do Hitchkok. Loucos. Todos loucos e perdedores.

Na lanchonete passava o jornal da tarde. Um advogado espancado com uma cadeira num bar. Um garoto que ficou preso injustamente durante o carnaval processando a policia. Um ganhador da sena suspeito de bater carteiras em botecos. Um senhor preso porque comia cérebros. Um imbecil enterrado vivo no mês passado. O autor de um livro espancado no meio da rua.

Eu deveria pintar quadros. Pintar e vender na rua. Cobrar caro e ganhar dinheiro pra beber. Sempre tem alguém pra comprar quadros. Não importa se são bizarros ou não, alguém sempre compra. E os caras ficam lá vendendo e pintando o tempo todo. Jogando suas vidas fora. Ganhando uma grana pra isso. Fazendo o que gostam. Todos gostam de jogar suas vidas fora. Eu também. Não sei outro jeito melhor de aproveita-la. E até descobrir vou joga-la fora. Mais uma varejeira no lixo. Depositando suas fezes e comendo os restos.

Porque sempre me dá vontade de cagar na faculdade? Não cago na minha casa pra cagar aqui. Todo mundo mija fora das privadas. Eu também mijo pra fora. Esses dias fui com o Joe no banheiro de um cinema pra cagar. Joe foi cheirar uma branca e eu fui cagar. Mas lá tinha esses papeis que a gente coloca na privada e senta em cima. O buraco era muito pequeno e eu sujei a borda da minha bunda. Limpei tudo. Joe perguntou pro porteiro onde ficava a Editora Mariana. “isso não é uma editora é um Edifício. Edifício Mariana” disse o porteiro pro doido do Joe. Ele saiu de lá dando risada e quase foi atropelado. Joe é maluco. Só entro em fria com ele, mas estou entre amigos. Posso encostar a cabeça no sofá da sala e dormir bêbado numa boa.