ITINERÁRIO

Ela conhecia a rotina de todos ali naquele ônibus.

O jovem rapaz de óculos estudava e cursava direito. Sabia, pelo vade mecum que sempre carregava ou pelo ponto que descia. Em frente ao supermercado.

A senhora só entrava no ônibus às sextas, como descia na ponto da praça, sabia que iria para o centro comunitário, para um atendimento de terapia à idosos que acontecia todas as terças pela manhã, de 09 às 11. Sabia pois sua vó, sua querida vó, fazia parte. Hoje não mais pois encontra-se falecida. Não sabia se aquela senhora era fora amiga de sua vó, talvez, quem sabe.

O homem que aparentava sua idade, charmoso até, ombros largos, óculos de hastes prestas, camisa passada a finco, descia no ponto do cartório. Trabalhava lá, certamente.

Sempre que se sentia atrasada ela sabia que se dentro do ônibus tivesse o jovem estudante ou o homem do cartório, que estava no ônibus ou no horário certo.

Um dia ou outro um deles não estava, mas saber se visse pelo menos um, já era o suficiente para saber que sim, aquele itinerário era o de sempre.

Não sabia onde o homem do cartório morava pois já estava no ônibus quando ela entrava, mas ele sabia que ela morava perto da igreja católica, o ponto que pegava o ônibus todos os dias.

O jovem estudante morava na próximo ao posto de gasolina pois sempre subia no ponto em frente.

Um dia atípico, quando entrou, o ônibus estava quase cheio, mas havia o um lugar no assento onde também estava o homem do cartório.

Ela sentou-se pedindo com licença. Suou frio, conhecia aquele homem, sabia do seu horário de trabalho, onde trabalhava, que morava com a mulher ou com a mãe pela roupa sempre impecável. Olhou para as mãos dele para ver se havia aliança. Não. Ou não era casado ou tinha mulher mais não casou.

-Eu estou indo assinar minha rescisão de contrato- disse ele.

Primeiro ela sentiu um frio subir pela espinha, depois a garganta secou como se tivesse sofrendo de uma desidratação profunda. Parecia uma hora mas durou apenas cinco segundos.

- Desculpa, eu não entendi!- ela não olhou para ele.

-Eu estou indo assinar minha rescisão hoje. Significa que eu não vou mais trabalhar onde trabalho e nem pegar mais esse ônibus e talvez não te ver mais, a menos que...

- A menos que...! - ela já olhava pra ele.

- Que você aceite que possamos nos encontrar sem ser no ônibus.

Foi rápido, coisa de dois minutos mas ela conseguiu pensar que o homem que ela sempre observava sempre a observava, que naquele dia, se tivesse sentado no lugar de sempre e não ao lado dele, se tivesse perdido o ônibus ou se ele não tivesse falado com ela, talvez nunca mais se encontrariam.

-Posso pegar seu numero?- ele disse

- 9939-4456 - ela disse.

Ele digitou o numero no celular dele, deu um toque no celular dela para que o numero ficasse registrado e o papo parou por ali pois um ponto depois ele desceria.

A noite ele ligou pra ela, dois meses depois estavam morando juntos, um ano depois o primeiro filho nasceu. Sempre conversam sobre a forma que se conheceram e que como o destino se encarrega de criar situações que obriga as pessoas a se encontrarem mesmo quando elas sempre seguem o mesmo itinerário mas se deixam vencer pela falta de coragem.

Elmo Férrer
Enviado por Elmo Férrer em 24/01/2018
Código do texto: T6235026
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