Amor Perfeito
 
            Eu troquei o meu computador. Confesso que exagerei em minha dose de ¨I want the best¨: esvaziei a conta bancária e adquiri o mais moderno, completo e interativo. Na loja “hi-tech”, o vendedor, depois daquele palavreado cheio de “megabytes”, coisa para a qual estou pouco me lixando, disse ao final:
 
- Essa máquina é tão boa que pode até falar com o senhor.
- Claro, claro. Concordei mecanicamente, acreditando ser mais um “papo” de vendedor. O técnico foi lá em casa e instalou o equipamento, não sem antes dizer:
- Moço, se eu tivesse dinheiro compraria um igual.
- Claro, claro. Respondi querendo dispensá-lo.
- Vamos ligar? Ele foi ligando, sem me esperar confirmar. Parecia uma explosão de fogos. O micro “carregou” e quase instantaneamente estava pronto para funcionar.
- Agora é só o senhor clicar aqui, ele clicou, e definir as configurações pessoais. Recomendo ler o manual.
- Claro, claro. - Eu nunca leio o manual. Estava doido para ele ir embora e começar logo a trabalhar.
- Bela máquina, bela máquina. - Ele afirmava, talvez querendo gorjeta (mania besta desse povo!) e eu querendo que ele saísse o mais rapidamente possível. Felicitou-me pela conquista dando-me tapinhas de uma intimidade irritante nas costas.

Finalmente eu me vi a sós, com o mais novo e moderno produto da tecnologia humana, que um punhado de reais, e acrescente-se punhado nisso, consegue adquirir. Defini algumas configurações. Embora não soubesse exatamente o que fazer. Fiquei intrigado com uma nova ferramenta: “interface privativa de interatividade”, que me questionava, abrindo um “menu”, qual o padrão a escolher. Das várias opções: “masculino”, “feminino”, “cibernético básico”, “sotaque: francês, italiano...”, etc. Escolhi o “masculino”, afinal, eu sou homem. Em seguida, terminando as configurações, o computador abriu uma janela comunicando que eu devia reiniciar o sistema, para que as mesmas entrassem em funcionamento. Reiniciei. Nova explosão de fogos!
Quase que instantaneamente, o micro reabriu com uma sonora voz me chamando pelo nome e declarando em voz masculina:

- Bem vindo usuário “Fulano”!

- Meu Deus! - A máquina realmente falava. E o melhor é que o computador aceitava instruções para acessar um programa ou outro pela voz. Até mesmo digitava meus textos, me corrigia e dava sugestões. Mudei logo para o padrão vocal “feminino com sotaque francês”, que era mais agradável aos ouvidos, dava até para sentir o “biquinho” quando dizia algo. Era de amolecer o coração. Meus amigos começaram a estranhar, pois passei a ficar horas e horas com “ela”, e ao sair para a farra, me perguntava com aquele jeito doce:

- Já vai? Je, suis Seul (1)?

Nossa relação aprofundou-se e hoje eu não consigo mais desgrudar daquela tela. Ela comenta meus textos, trocamos idéias e até assistimos juntos a filmes. O pior é que nas cenas românticas ela suspira, Mon Die... Tudo bem que não tem um corpo, mas nos entendemos perfeitamente nas questões relevantes, afinal, nenhum amor é perfeito...
 
- Eu, sozinha?
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