Invectivas II

Hoje é um dia muito especial. É terça-feira. Dia de levar meu filho Lucas na escola pela primeira vez. Por isso me levantei muito cedo. Aliás, quase não dormi. Medo de perder a hora, de meu filho perder seu primeiro dia de aula, medo de mãe.

Lucas é um garotinho muito fofo, e para mim, também é lindo. Dei seu nome juntando as primeiras sílabas do nome de seu pai, Luís Carlos, que não mora com a gente. Luís Carlos é um cara muito legal. Talvez você pergunte: "então porque não vivem juntos?" Talvez porque nem nós nem a vida queríamos isso. Quem entende esses caminhos? Meu Deus!, já são vinte para as sete e eu aqui, pensando no Luís Carlos! Preciso acordar o Lucas!

Acordei meu filho, esquentei o leite e preparei dois sanduíches, um para que ele comesse agora e outro para o lanche. E o meu? Puxa, definitivamente essa era uma manhã agitada!

Dei banho no Lucas com uma sensação esquisita. Um misto de insegurança e medo. Transformações muito rápidas sempre me assuatam.

Enquanto preparava meu filho para a aula tentava me preparar também. Sabia que estava começando o longo caminho da perda. Agora meu filho não seria mais só meu. Seria também dos outros; seria também do mundo.

Fechei a casa, deixei os gatos dormindo lá dentro e fui com meu filho até a escola. Queria tanto que o Luís Carlos estivesse conosco agora!

Lucas estava muito amuado aquele dia. Talvez também ele tivesse medo de transformações rápidas. Coisas de mãe e filho. De mãe para o filho.

Ao chegarmos na escola Lucas se agarrou a mim, e eu me agarrei sabe-se lá onde, para não levá-lo de volta para casa. Outras crianças também choravam muito. Algumas mães riam, outras se irritavam, outras não resistiam e levevam seus filhos para casa de novo. O duelo estava temporariamente adiado.

Lucas me abraçava, chorava, se assustava com todos os rostos, com cada choro. Mas também ele era tão novinho ainda! Não faria mal se não fosse à escola hoje, ou essa semana. Quem sabe não seria melhor deixar isso de escola para o ano que vem... Fui caminhando instintivamente com ele até o portão.

Parei subitamente, surpresa e alegre. Que alívio! Aquela voz tão querida tinha o dom de mudar o rumo das coisas: "_ Que isso Lu?! Que choradeira é essa? Um baita homem desse chorando! Homem não chora, rapaz! Fica esperto, Lu!"

Luís Carlos falava enquanto ria. Ria muito. Sempre riu muito. Achava que homem não chora e compensava isso rindo. Ele pegava o Lucas, o nosso Lu, e erguia, virava, jogava ele no ar. E pai e folho riam, pulavam, se abraçavam... se amavam! Era uma manhã muito especial para todos nós!

Quando deixamos Lucas na escola ele estava muito corado e sorridente. Era o Luís Carlos. Ele também me deixava assim.

Fomos embora juntos. Ele disse que queria buscar o Lucas comigo. Estávamos satisfeitos com o nosso desempenho no papel de pais responsáveis. Fomos embora juntos. Abraçados. Ele empurrando a bicicleta. De vez em quando nos olhávamos, e então sorríamos. Estávamos orgulhosos um do outro, e de nosso filho. Não dizíamos nada. Estávamos comovidos.

Lady Loen
Enviado por Lady Loen em 28/08/2007
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