Caso Encerrado

Ontem, prisioneira de ardentes dúvidas. Hoje, nocauteada pela verdade. Com o passar dos anos, a interrogação cotidiana torna-se o alicerce de tolas fantasias. Entretanto, quando a realidade vem à tona em ritmo quase alarmante, a dolorosa constatação atinge um propósito lógico específico: fulmina todas as esperanças insensatas.

(É a sedução da incerteza contra o esmagador impacto das concretas convicções.)

Ele sempre soube o que eu não quis de modo algum enxergar - é impossível transpor os obstáculos que aniquilaram as nossas chances. Somente agora, percebo o quanto firo as suas necessidades, o quanto somos diferentes: a inquietação do verde dos meus olhos perturba a serenidade do castanho dos seus, o eco das minhas gargalhadas desagrada o seu sorriso contido e enferrujado, as minhas ações irrefletidas e efusivas destoam de suas atitudes suaves e equilibradas. Enfim, a minha violência ofende a sua brandura.

(Acredite: o excesso de lucidez é capaz de massacrar uma relação.)

A devastadora frieza de um encontro acidental provou que o tempo é um lento remédio para a sua insatisfação - as mágoas corrosivas serão as companheiras permanentes de nossa história. Contudo, é evidente que lidamos com a decepção de forma muito distinta: apesar de todas as avarias, ainda prefiro a desordem dos sentimentos à simetria das plastificadas emoções.

Helena Rodrigues
Enviado por Helena Rodrigues em 05/04/2018
Código do texto: T6300293
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