Lua em aquário

Dois amigos se encontram num bar:

Alberto: _E aí, amigão? Tudo bem contigo?

Hélio: _Opa, tudo firmeza. E você?

Alberto:_De boa também. Vamos tomar um chopp? Eu pago!

Hélio: _Falou! Bora!

Durante a conversa...

Alberto: _Cara, você viu o que saiu nos jornais sobre o Maneco?

Hélio: _Não. O que houve?

Alberto: _O cara foi acusado de desviar um milhão da merenda escolar para a própria conta no exterior.

Hélio: _Ah, eu não acredito nisso! Essas acusações são infundadas. Ele mesmo já foi à mídia televisiva e desmentiu coisas muito piores que essa.

Alberto: _Ué, por que você está defendendo o Maneco?

Hélio: _Porque eu conheço bem as propostas dele. Ele é meu candidato para as próximas eleições.

Alberto: _Cara, você é louco? Como você vai votar em alguém que está sendo acusado de desvio de verbas? Isso é roubo e dá cadeia, sabia?

Hélio: _Imagina! O Maneco é um homem decente; que trabalhou em prol do progresso da cidade. Ele jamais faria algo assim. E vai provar sua inocência mais uma vez.

Alberto: _Olha, você é quem sabe. Eu nunca votaria em alguém assim. Iria contra os meus princípios.

Hélio: _Bom, cara, acho que vou indo. Você é muito radical.

Alberto: _E você é alienado politicamente.

Hélio: _Eu só estava dizendo que não acredito nessas acusações.

Alberto: _Ah, mas não é a primeira vez que você defende um candidato desse partido.

Hélio: _Ah, que saber? Não me encha o saco. Você está muito chato hoje.

Alberto: _Ok. Falou então. Só acho que você é um hipócrita.

Hélio: _Eita! Por que? Tá louco, meu! Você está me ofendendo.

Alberto: _Ah, é isso mesmo. Você é hipócrita porque está agindo contra os princípios da sua religião.

Hélio: _Ah, vai começar agora?

Alberto: _Começar o que? Só estou dizendo que, de acordo com a sua religião, vocês não devem se meter em política.

Hélio: _Ah, seu mané! Você não entende nada da minha religião e vem falar besteira.

Alberto: _Mané é você, que fica se colocando como se fosse um defensor de políticos corruptos.

Hélio: _(Gargalhadas irônicas) Ah, se fosse só eu... Você vivia defendendo aquele outro lá, lembra?

Alberto: _Ah, mas o Julius era mesmo inocente. Ele conseguiu provar isso.

Hélio: _Isso é algo em que eu não acredito ainda, mas enfim, esse papo está muito chato. Vou vazar!

Alberto: _Já vai tarde! E mais: o seu time é ridículo também. Nunca ganha nenhuma partida, seu manezão! (gargalhadas irônicas).

Hélio: _O seu também não. Está falando o que aí? Lembra a goleada do Embu sobre ele?

Alberto: _Rapaz, cala essa boca!

Hélio: _Ah, quer saber? Tô vazando! Até nunca mais, seu babaca!

Alberto: _Tchau, imbecil!

E saem do bar, cada um para um lado, deixando o dinheiro dos chopps sobre a mesa.

Dois dias depois...

Diana: _Oh, Alberto, você excluiu o Hélio do seu Facebook?

Alberto: _Sim. Não quero mais falar com esse cara. Acredita que ele anda defendendo aquele bandido do Maneco?

Diana: _Poxa, amor! Que pena! Ele é padrinho dos nossos dois filhos. Ele nos ajudou quando precisamos. Devemos muito a ele.

Alberto: _Ah, não quero saber! O cara é alienado e ainda tirou sarro do meu time, depois de me criticar por lembrá-lo dos conselhos dos pastores da igreja dele.

Diana: _Eu não acredito que vocês brigaram por causa disso?

Alberto: _Como assim, mulher? O Hélio anda insuportável. Vive num universo particular diante da política atual.

Diana: _Querido, reflita sobre o que irei dizer: vocês brigaram por causa de três coisas que andam separando as pessoas: política, religião e partidas de futebol. Diga-me uma coisa: vale a pena deixar de se relacionar com as pessoas por convicções suas com relação a essas coisas? A religião deveria unir as pessoas, pois ela tem o intuito de nos aproximar de Deus. A política também deveria ter esse propósito de união, pois perante a lei, todos somos iguais. Até o futebol poderia unir as pessoas; é um grande entretenimento. Apesar disso, vocês competem, criticam uns aos outros e vilanizam suas ideias e crenças, ao invés de respeitá-las. Ainda que sejamos iguais, também somos diferentes e é nessa diferença que mora a verdadeira graça da vida.

Alberto: _É, Di. Você tem razão. Eu vou pensar melhor sobre tudo isso. Talvez eu tenha sido muito duro com o Hélio. Não devo impor as minhas crenças a ele; apenas manter as minhas e respeitar as dele.

Diana: _Exatamente! Pense bem nisso. Agora vamos dormir, que já está tarde.

Alberto: _Ok, amor. Boa noite!

Diana: _Boa noite, querido.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 17/04/2018
Código do texto: T6311262
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