ARREPENDIMENTO

Matucunhula morava na cidade da Beira, com frequência ia passar as suas férias na pequena, mas belíssima vila municipal do Dondo em casa do seu tio Zefanias. Lá jogava futebol com os amigos numa das equipas do campeonato recreativo da cidade. Era extremamente talentoso, durante os seus jogos marcava muitos golos, alegrando a multidão que o assistia. As garotas do bairro de Mafarinha, local onde decorria o campeonato, deliravam cada vez que ele fazia balançar as redes.

O jovem tinha apenas vinte anos de idade e frequentava a nona classe, quando conheceu a menina Nzai por influência dos seus companheiros da equipa, que conheciam a adolescente de apenas dezasseis anos de idade, residente do mesmo bairro.

Depois das apresentações, os dois trocaram contactos telefónicos e depois de inúmeras conversas, vários pedidos de namoro por parte de Matucunhula, a menina Nzai aceitou ser sua namorada e começaram um forte relacionamento amoroso clandestinamente.

Por ser um jovem famoso no bairro e por estar a namorar uma rapariga tão linda, Matucunhula teve que deixar de morar na cidade da Beira para definitivamente residir na cidade do Dondo em casa do seu tio, de tal maneira que pudesse ficar próximo da namorada e juntos desfrutarem momentos maravilhosos.

Matucunhula e Nzai encontravam-se sempre clandestinamente, para tal, depois de o jovem solicitar a menina, ela despistava o seu pai, por vezes inventando estudos em grupo quando fosse no período da tarde e noutras vezes pulando a janela quando fosse no período nocturno. Tais encontros aconteciam com frequência e era tudo lindo, o seu amor era intenso e forte, mas como era de se esperar, sendo demasiadamente imaturos, imprudentes e inconsequentes, relacionavam-se sexualmente sem protecção, correndo todos os riscos de uma eventual doença de transmissão sexual ou mesmo uma gravidez indesejada.

Como era óbvio, não tardou. Era um dia de muito sol, Nzai acordou mal disposta e com fortes dores sobre a cabeça, pensou que fosse algo normal e passageiro, por isso tomou um paracetamol e foi repousar.

O pai regressando do serviço encontra a menina dormindo na varanda traseira da casa e fica espantado porque não era habitual a filha dormir no período da tarde, sendo que neste período, Nzai sempre ia treinar andebol com as amigas no Clube do Dondo.

Diante desta situação, vendo a filha dormindo, senhor Massacadula pergunta:

̶ Filha! O que se passa contigo?

̶ Apenas uma pequena dor de cabeça pai, nada de grave. Responde a filha.

O pai, de imediato foi ao seu quarto trocar de roupa e em seguida saiu com os amigos pensando que se tratava de apenas uma simples dor na cabeça, conforme a sua filha havia dito. Mas Nzai continuava a contorcer-se de dores, aquele comprimido que ela tomara não sortiu efeito.

A situação prevaleceu por uma semana, ela sentia constantes dores na cabeça, preocupando imensamente senhor Massacadula, que decidiu levar a filha ao hospital mais próximo da sua casa. Foi lá que depois de vários testes, os médicos descobriram que a menina estava grávida de cinco meses, para a decepção do pai que tudo fez para que a sua filha não se desviasse das boas condutas.

Depois de terem saído do hospital, pai e filha foram à casa e chegados lá a conversa é inevitável:

̶ De quem é o bebé que carregas no teu ventre? Questiona o senhor Massacadula.

A menina permaneceu calada, sem nada dizer.

̶ Quem é o pai do bebé? Pela segunda vez, já furioso questiona o senhor Massacadula.

Com ar de medo e com uma voz trémula, a filha responde calmamente:

̶ É de um jovem futebolista, ele tem jogado no campo ao lado e nós namorávamos clandestinamente com medo que o senhor descobrisse e me batesse.

O pai tão decepcionado, quase com lágrimas nos olhos, nada mais disse e foi dormir.

No dia seguinte, logo cedo mandou a filha mais nova Dulce, chamar sua mana Nzai. De imediato ela atendeu a chamada e foi ao encontro do pai, tendo sido orientada a chamar o jovem Matucunhula para um dedo de conversa. A menina mandou chamar o jovem que, de imediato dirigiu-se à casa do pai para prestar algumas declarações. Quando lá chegou, apresentou-se diante do senhor Massacadula e foi-lhe servido uma cadeira de madeira para poder sentar-se.

̶ Bom dia senhor! Disse o jovem.

̶ Bom dia! Já sabes a razão de cá estares, simplesmente quero que me digas se tens conhecimento da gravidez da minha filha e se a mesma pertence-te. Disse o senhor Massacadula.

Sem rodeios o jovem responde:

̶ Sim senhor, a gravidez pertence-me, porém como deve notar não tenho condições para cuidar do bebé, não trabalho, simplesmente sou um estudante do ensino secundário e moro com o meu tio.

Diante dessa resposta, o senhor Massacadula ordenou que o jovem contactasse o tio de modo a conversarem em torno do assunto. O tio Zefanias foi contactado e confirmou a sua presença para o dia seguinte. Chegado o dia, tio Zefanias e senhor Massacadula encontraram-se. Depois de várias conversações chegaram a conclusão que a família do rapaz poderia arcar com todas as despesas do bebé logo após o seu nascimento e que marido e mulher iriam morar juntos.

Feito isso, todos saíram felizes, aguardando ansiosamente pelo nascimento do bebé. Depois de quatro meses a criança nasceu, mas a promessa feita pelo tio do jovem Matucunhula não se cumpriu. O pai da Nzai ligava insistentemente para o tio Zefanias, porém sem sucesso, simplesmente não atendia as suas chamadas. Foi daí que o senhor Massacadula decidiu não mais ligar para ele e cuidar sozinho da sua neta, a quem lhe atribuiu o nome da sua falecida esposa Fieza, em sua homenagem.

Nzai, por ser menor de idade contou com a ajuda do seu pai e da sua madrasta Txitundo nos cuidados da menininha Fieza até o dia da morte do senhor Massacadula deixando-as desamparadas sem capital financeiro para arcar com as despesas da casa e da criança.

Aos dezassete anos de idade, Nzai viu-se a tomar uma atitude drástica em relação a sua vida futura, a procura pelo emprego era incansável até que um dia conseguiu numa empresa ligada à área de informática. Trabalhava como balconista e ganhava o salário mínimo, pouco, mas muito para quem precisa de cuidar sozinha da filha sem amparo de ninguém.

Enquanto Nzai trabalhava arduamente dia após dia proporcionando uma vida condigna para a sua filha, o jovem Matucunhula dedicava-se ao futebol, já tinha deixado de estudar e não se importava nem com a criança, nem com a mãe, simplesmente se limitava em viver as adrenalinas da vida com os seus amigos.

Quando Fieza completou três anitos, quis o destino que a mãe conhecesse seu novo amor, um jovem estudante universitário frequentando o último ano de faculdade e professor numa das escolas privadas da cidade. O jovem Ntxeca Mataco apaixonou-se perdidamente pela Nzai e os dois começaram uma nova história de amor. Fieza passou a ter um pai que nunca teve, carinhoso, brincalhão e que lhe dá toda atenção do mundo. Nzai também passou a ter um marido que nunca teve, amoroso, presente e preocupado com o bem-estar da sua família.

Depois de Ntxeca Mataco ter concluído os seus estudos, conseguiu um contrato de trabalho em Cabo Delgado e levou consigo a sua nova família para juntos morarem. Lá vivem felizes e aumentaram o seu agregado familiar com o nascimento de mais um bebé a quem foi atribuído o nome de Nghale.

Tendo noção que no passado cometeu atrocidades e perdeu por completo o carinho da sua ex-namorada, assim como o da sua filha de sangue, que tem carinho, admiração e respeito por uma outra pessoa, Matucunhula tenta a todo custo aproximar-se da menina e da sua mãe com vista a corrigir o erro cometido, mas já é tarde porque o seu lugar já foi ocupado pelo jovem Ntxeca Mataco.

Manuel Chionga
Enviado por Manuel Chionga em 30/05/2018
Código do texto: T6350364
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