Ziguezagueando 11

Passou segunda, ficaria somente mais três dias; retornaria para a cidade satélite do extremo norte. Mas antes, Hugo não sossegaria até que retornasse ao lugar que se perdeu. Por pura pressão intuitiva, foi até a região da feira na manhã de quarta, por volta do horário do almoço, antes do último evento que encerraria a Convenção.

Enquanto caminhava a passos diminutos a beira praia, fazia a autoanálise, jogo baixo que praticava vez ou outra, auto engano, se passando de paciente de si, mesmo sabendo que estava bichada.

Pensou...”onde já se viu! eu, um estudioso da mente, se auto analisando depois de uma flertada, tipo daqueles babados ocorridos nas paqueras dos jovens da década de setenta, oitenta... noventa, sabe-se lá! vexame, muleque! mas não, Hugo!!pagando laranjas? Adiantando pagamento de uma fruta que você nem sabia se a mulher iria levar! E se a menina fosse casada ...tome!! menino!

Analisou friamente a situação, estudou criteriosamente o entorno, antes, durante, e depois do encontro com a estranha. Sua conduta, o croqui do estado emocional que estava, fez uma anamnese de si, se auto clinicou na ilegalidade, era expert no identificar sintomas do emocional dos seus pacientes logo nas primeiras sessões. Mas dos pacientes! e dele?Por precaução, fazia terapias com colegas de profissão regularmente para fluidificar a mente, que vivia enxotada dos problemas emocionais e mentais alheios. Estava ausente delas há mais de dois anos.

Buscou respostas até nos princípios que regem a Homeopatia. Ousou arriscar, numa tacada! Será que Jovita resgatou em si doenças que estavam armazenadas, quietinhas no inconsciente, algo parecido com o princípio da patogenesia, desencadeando em si sintomas de doenças emocionais e mentais sutis? Venenosa, hein!

Estaria no auge de uma crise de carência afetiva? Os anos que estava como divorciado o deixou vulnerável a dependência de atenção, aceitação? Seria a solidão, ou a solitude, estilo peregrino que adotou como estilo de vida, o definidor a induzi-lo para o desaguar nos braços de outra mulher num estalo? Era vacinado.

Sim, o traquejo, o conhecimento de causa em assuntos da psique na mulher, as blindagens e defesas pessoais estavam intactos em si para lidar consigo mesmo nestas situações. Foram anos de atendimento, a experiência o garantia por si, não cairia nesses absurdos provenientes de imaturidades e desconhecimentos, que somente os praticam quem não tem compreendido algumas verdades da alma humana, que facilita o conhecer a si, e o outro.

Ah! Tinha um farto acervo de teorias e tendências da Psicologia saltitando na mente, era uma orquestra afinadíssima, uma corrente e outra debatiam, traziam prontinho soluções, como se isso resolvesse.

Seria um narcisista? Por estar assustado, tentando dissecar o caso, para poder reduzi-lo ao pó, e assim, encontrar a porta de saída desta situação, que era o continuar sozinho?

Se imaginou passando como paciente de Freud, Carl Jung, e Andrè Green, imagine! Eu! sentado no divã com os três em volta! nãoo! Passou visualizar Charles Melman olhar para si sorrindo, com os olhos diminutos, com o pescoço pendido para o lado, dizendo que poderia estar se tornando paranoico.

Se deparou com a feirinha! Aquela que encontrou Jovita na banca de laranja.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 06/06/2018
Código do texto: T6357526
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.