OUTRA VEZ

OUTRA VEZ

Essa experiência vivida, teve começo, meio e fim. Durante todo o tempo em que se passou, parecia que alguém guiava meus atos e pensamentos e se materializava quando eu sentava na frente do computador. Tudo o que eu escrevia, eu tinha a nítida impressão de que realmente eu tinha vivido. Talvez tenha sido impressões de outras vidas, não sei, mas vou relatar o que aconteceu durante este acontecimento.

Em 2003, depois de um casamento de 20 anos,me separei. Foi uma ruptura sem muitos traumas, pois a convivência já estava desgastada, e foi o melhor que achamos que deveria ser feito.Aluguei um apartamento de um quarto, no Bairro Bom Fim e saí de casa, num domingo à noite. Na época eu era gerente de vendas, de uma conceituada Seguradora, e comecei a fazer novas amizades, com alguns dos corretores que trabalhavam na empresa.

Do casamento, tivemos um lindo filho, hoje com 21 anos e um grande companheiro.

Tudo ia bem, até que minha ex-mulher começou a me assediar de novo. Tivemos algumas recaídas e depois passou. Sempre freqüentava a casa deles. Ela sempre me contava as paqueras dela pela internet. Falava das salas de bate papo, dos caras que ela teclava, do envolvimento que teve com um deles, contava e eu ouvia sem muita atenção, mas ouvia.Até que um dia comecei a sentir ciúmes, é isso mesmo, ciúmes da minha ex-mulher. E aí que fazer, falar pra ela, me declarar novamente, realmente eu não sabia o que fazer. Ia pro meu apartamento, bebia e ficava lá curtindo uma fossa danada.

Tive que me afastar um tempo, pois fiz uma cirurgia, e depois voltei e tomei coragem e falei pra ela, me declarei, e ela nada, não queria voltar, pois estava com um novo caso. Comecei a me desesperar. Bisbilhotando o celular dela, descobri o telefone do dito cujo, descobri que era de Canoas.Passava trotes. Pensava em dar um susto no cara, ameaçar, fazer qualquer coisa para afastá-lo. Mas nada dava resultado. Passavam mil coisas na minha mente, e hoje eu me dou conta de como sofrem os rejeitados, pensava até em matar para ter o objeto amado.Mas com calma e muita reza, pedindo orientação aos meus mentores espirituais, comecei a me acalmar, e tive uma inspiração, uma idéia começou a surgir na minha mente. –Tinha que conquistá-la novamente, tinha que surpreendê-la, não sabia direito como, mas confiava na força que me motivava, que me movia.

Por onde começar? Até que me veio à idéia de fazer isso através da internet, afinal de contas, todas as paqueras dela eram através desse meio.Procurei descobrir qual o E-mail que ela mais usava nessas paqueras, e comecei a incorporar uma nova personagem, o homem perfeito, o homem dos sonhos....bonito, rico, desimpedido, maduro, romântico, que gostava de viajar, que gostava de ler,viúvo, (é claro que muitas dessas qualidades eu tenho, só enfeitei um pouco mais, criando um clima de romance), e fui à luta.

Comecei enviando um E-mail, dizendo que em uma noite qualquer, estava teclando em uma sala de bate papo , depois de algumas taças de vinho, teclei com ela e a tinha achado muito interessante. E passado algum tempo, depois de algumas viagens pelo exterior, tinha voltado e queria saber se ela não tinha interesse em trocar alguns E-mails, para nos conhecermos melhor, sem compromisso, etc... Na primeira vez, ela não respondeu. Depois de uma semana eu mandei outro, já me descrevendo, contando algumas passagens da minha vida(a personagem). Descrevi-me, ou sei lá o que me intuía, mas as palavras fluiam através do teclado. “Sou moreno, olhos azuis, 1.75m, 49 anos,corpo em forma, sem barriga, viúvo,tenho 2 filhos, já encaminhados, um fazendo pós-graduação nos Estados Unidos, outro estudando em São Paulo, trabalhava no ramo financeiro, viajava constantemente, pelo Brasil e exterior, tinha perdido minha mulher num acidente de carro na freeway e quando me chamaram, eu tinha ido de carro e também me acidentei, ficando 6 meses em coma,(um drama, pois ela adora um dramalhão) e que depois fui me recuperando e aos poucos havia retomado minha vida. Isso tudo tinha acontecido há 2 anos, e eu já estava recuperado fisicamente, mas que ainda tinha algumas falhas no campo psicológico, inclusive um médico americano havia me falado da maconha como um tratamento alternativo, e eu fumava um baseado de vez em quando e por ai iam os E-mails...”

Depois do segundo E-mail, ela começou a comentar comigo, que um cara assim e assado, tinha escrito pra ela, mas que ela não lembrava de ter passado o E-mail e que não estava muito afim, mas ia responder. Eu escutei e me fiz de desentendido, e disse, vai ver é alguém que tu conheceu na noite. Depois de várias trocas de correspondências, comecei a pedir uma foto e ela mandou. Falava coisas bonitas, falava de amor, da tristeza de ter perdido a mulher que eu amava, das coisas que deveria ter dito e não disse,falava de sexo com envolvimento, das experiências que tive após voltar do coma, etc... Após mais ou menos um mês, eu já sentia que ela estava se envolvendo, pois ainda fala “dele” pra mim, mas não dava mais os detalhes picantes.

Chegou a um ponto dos meus amigos, começarem a me pressionar para esclarecer tudo, pois a coisa estava séria demais. Quando ela vinha falar comigo, já dizia, o Felipe (este era o codinome) está para chegar de uma viagem e eu vou me encontrar com ele, vê se não vai atrapalhar com os teus ciúmes. Eu já estava pensando em comprar um celular pré-pago, para trocar torpedos, eu pensava em marcar o encontro no café do lago, e chegar lá com a turma de amigos e ficar vendo a reação dela, pensava em mandar um E-mail como se fosse o filho do Felipe, dizendo que o mesmo havia morrido. Prevaleceu o bom senso, e um amigo me pressionou e me convenceu a falar numa boa para ela. Marquei um dia e a convidei pra ir ao shoping e comecei a falar aos poucos, e disse , eu sou o Felipe, e ela , tu estás brincando, eu não acredito, tu queres tirar sarro de mim, só porque eu encontrei um cara legal,não eu não estou brincando, veja o E-mail do Felipe, “perige@” é pe de Pereira, ri de Ribeiro e ge de Geraldo, aí caiu à ficha e ela começou a chorar, pois eram minhas iniciais verdadeiras. Eu comecei a dizer que ainda a amava, que tudo que havia escrito era realmente o que sentia, que queria mais uma oportunidade, etc...

E pelo menos deu certo por um tempo, ela concordou em ficarmos juntos, mas sem muitas expectativas. Viajamos uma semana para a ilha de Florianópolis e ficamos na praia dos ingleses, como se estivéssemos de lua de mel. Pelo menos isso o “Felipe” conseguiu.

Na volta para a realidade, não evoluiu. Nossa estória foi bonita, não ficaram mágoas, durante 20 anos ela deu certo, mas terminou, passou.

Se foi uma prova que eu tinha que passar, guiado ou não, pelo menos por um tempo, conseguí tê-la outra vez.

Pedro Guilherme Holz