O CASAMENTO PERFEITO

O CASAMENTO PERFEITO

Os dias na pequena cidade de Cafundó passavam lentamente como em qualquer lugarzinho no interior e Euclides morava justamente lá. Levava uma vidinha tranqüila, como a maioria dos seus vizinhos. Trabalha o dia todo na única farmácia do lugar e, à noite, tinha duas diversões: assistir televisão e bater papo com desconhecidos na Internet. Desconhecidos mesmo, porque ele era o único que tinha um computador nas redondezas. Ganhara de presente de um tio que morava no rio de Janeiro. Na verdade, a máquina já era ultrapassada, mas até que funcionava bem. Foi assim que Euclides fez muitos contatos fora de Cafundó. Como era inteligente e muito curioso, logo aprendeu a lidar com a “novidade tecnológica” e ganhou o mundo. Fora isso, não havia quase nada com que se distrair, além da festa da igreja. Mas isso só acontecia uma vez por ano.

O jovem do interior descobriu muitas coisas depois que ganhou o tal presente. Obviamente, ficou até famoso na cidade, já que tinha sempre algo novo para contar. Se alguém queria saber dos acontecimentos no Brasil e no mundo, ia logo perguntar para ele. Aliás, Euclides aproveitava para aprender de tudo com as pessoas com quem conversava pela Internet. E foi num desses bate-papos que fez contato com uma jovem chamada Eugênia. Ela também morava num lugarzinho desses que quase ninguém ouviu falar e os dois começaram a descobrir muitas afinidades. Ambos adoravam novela, sem falar que tinham preferência por filmes de amor. Essa última coincidência, aliás, despertou entre eles um interesse a mais. Nos dias que se seguiram, os dois já deixaram de lado os outros parceiros de papo e passaram a se falar por horas. Quanto mais conversavam, mais coisas iam descobrindo em comum e isso parecia deixá-los cada vez mais próximos. Como nenhum deles era comprometido, resolveram começar a namorar. Euclides até deixava de assistir a alguns capítulos de sua novela preferida para ficar mais tempo com Eugênia. Ela, por sua vez, não o decepcionava. Quando ele se conectava à Rede, lá estava ela a sua espera, ansiosa por mais alguns momentos de trocas de elogios, de confissões, de juras de amor.

Após quase um ano de encontros virtuais, Euclides surpreendeu a namorada com um pedido de casamento. Ela, obviamente, ficou assustada, já que nem o conhecia pessoalmente. No entanto, lembrou que muita coisa havia mudado para melhor depois do dia em que conversou pela primeira vez com ele. Assim, resolveu aceitar o pedido, o que deixou Euclides muito entusiasmado. Só havia um problema: como fariam os preparativos e como seria a cerimônia se moravam a centenas de quilômetros de distância um do outro? É claro que o, agora então noivo, já tinha pensado no assunto. Nosso amor nunca dependeu de estarmos juntos! – argumentou Euclides, emocionado. Além disso, você já percebeu que nunca tivemos nem uma discussão? – emendou ele, empolgado. Não conheço nenhum casal que tenha passado quase um ano sem, pelo menos, uma rusguinha! – enfatizou, finalmente. Foi aí que Euclides contou à noiva a solução que havia descoberto para que o casamento dos dois pudesse acontecer em breve e, o melhor de tudo, ser muito mais duradouro do que todos os que eles conheciam. A idéia dele era que se casassem em uma cerimônia pela Internet, já que dava até para reunir mais pessoas no mesmo bate-papo. Poderiam convidar os padrinhos e os convidados que quisessem e levá-los para o local onde o computador estava instalado. Assim poderiam até fazer uma festa para comemorar a união dos dois (na verdade, duas festas). Euclides já havia pensado até em como resolver o problema da noite de núpcias. Como havia juntado um dinheirinho durante o ano de namoro, poderia para fazer uma viagem até a cidade de Eugênia. Assim, uns dois dias depois do casamento, estaria com a amada e consumariam o fato. Em seguida, ele voltaria para Cafundó e para a rotina de contatos virtuais com a esposa. Eugênia, inicialmente, achou tudo muito estranho e pediu um tempo para pensar no assunto. Sem alternativa, Euclides concordou e os dois encerraram a conversa por aquela noite.

Era sexta-feira e Euclides não via a hora de fazer contato com a noiva outra vez, para saber o que ela havia decidido. Nove horas da noite, como de costume, lá estava ele de plantão na frente do monitor quando viu que Eugênia e conectou. O papo começou meio diferente do que de costume, já que uma sobra pairava sobre os dois. Mas Eugênia logo entrou no assunto do casamento e disse que tinha pensado muito no caso e, avaliando toda a situação, decidiu que aceitaria a proposto do noivo com uma condição: que ele se comprometesse de ir visitá-la, pelo menos, no aniversário dela, em junho, e no natal. Apesar de a viagem até a cidade da noiva não ser das mais baratas, ele topou na hora e marcaram o enlace para duas semanas depois. Afinal, ela teria de comprar vestido novo, convidar padrinhos e preparar lista de presentes, essas coisas de noiva.

Chegou, finalmente, o dia tão esperado. Os dois estavam nervosos, pois iam dar um passo muito importante em suas vidas. Não é todo dia que duas pessoas assumem um compromisso tão sério quanto o de um casamento. Na hora marcada, a cerimônia foi iniciada com cada um em frente ao seu monitor e os padrinhos e convidados ao redor, curiosos para verem como tudo aconteceria. Levar o padre tinha sido incumbência de Euclides. Os procedimentos de praxe foram sendo executados um a um. Emocionados, os noivos repetiam o que o padre ia dizendo, até o momento do sim. Aí foi uma felicidade só. Os dois, finalmente, tinham realizado um sonho. Agora era só comemorar, cada um na sua cidade.

Tão logo terminaram os festejos, Euclides deu de mão na mala e foi para a rodoviária pegar o ônibus que o levaria ao encontro da amada. Foram dois dias inteiros de sacolejos, paradas e muito calor. A chegada a Brejo alto, cidade de Eugênia, foi triunfante. Ela o esperava com toda a família em frente à rodoviária, muito ansiosa por conhecê-lo pessoalmente. Ao se verem frente a frente foi um tal de abraça e beija e aperta que não tinha mais fim. A espera tinha valido a pena. Agora tinham três dias inteiros para aproveitar juntos, e era preciso aproveitar, já que ele só voltaria a vê-la assim de pertinho no fim do ano, no natal. Foram dias de muita alegria, de passeios pelo campo, de visitas aos parentes de Eugênia para apresentar o marido, de muitas trocas de carícias, de promessas de amor e, é claro, das intimidades entre dois jovens recém casados. Mas, como tudo que é bom dura pouco, chegou a hora de Euclides voltar para Cafundó e, novamente, para as conversas diárias pela Internet, mas, agora, com a esposa.

E é assim que Euclides e Eugênia vivem até hoje. Conversam pela Internet durante horas todas as noites e se encontram duas vezes por ano. Na verdade, no último ano, Euclides teve de ir visitar Eugênia três vezes. Em Janeiro, ela deu à luz o primeiro filho do casal, uma menina, que nasceu linda e robusta, com quase quatro quilos. Euclides, finalmente, sentia-se um homem realizado. Casara-se com a mulher a quem amava, os dois jamais discutiam e agora tinham uma linda filha para alegrar mais ainda suas vidas. Era um casamento, realmente, perfeito.

Everton Falcão
Enviado por Everton Falcão em 14/09/2007
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