Estação Uruguaiana "Parte 2".
No texto anterior, estava conhecendo a loja e quem eram os meus colegas de trabalho. Tinha conhecido Antônio e Guaraciara.
- Você trabalha a quanto tempo aqui?
- Estou aqui há um ano.
- E é sempre assim, temos que ficar na porta?
- Sim. Temos que ficar de olho na movimentação se tem alguém estranho na loja e se tiver passamos um rádio para quem está no salão pra acompanhar.
- Entendi.
- Tá vendo aquela escada?
- A escada rolante?
- Não. A outra lá atrás a de cimento.
- Sim estou.
- Tem um cara lá que se chama Falcão. Ele está te esperando lá.
- Ok.
Fui em direção a escada que o Antônio estava falando e lá dei de cara com um homem baixo, camisa, calça e sapato social.
- Você é o Victor?
- Sim.
- Prazer. Eu sou Falcão.
Falcão já foi um A.S e chefe de segurança. Hoje exerce uma função acima, é um dos meus chefes, mas não é o que vai ficar trabalhando com a gente diariamente até porque o chefe de segurança ainda não tinha dado as caras.
Falcão então desceu a escada comigo e ai foi me explicando como funciona o trabalho. No começo fiquei perdido assim como qualquer novato que chega ao seu primeiro dia de trabalho.
- Aqui Victor nós temos que ficar muito atentos até porque a loja está cheia e para um furtante isso é uma grande vantagem porque eles podem se misturar no meio dos clientes.
- Entendi.
No momento que o Falcão estava me explicando, o homem de mochila passou do nosso lado.
- Tem que ficar atento a isso. A mochila dele tá vazia, se ele tiver com maldade pode pegar o produto, rodar pela a loja até achar um canto em que ele possa colocar na mochila e sair.
O cara pegou um produto, mas, foi para o caixa.
- Ele pegou a mercadoria e foi para o caixar pagar mas isso, não significa que ele vai pagar, pode ser uma jogada dele para a gente não ficar na cola dele... Ele pagou então esse foi tranquilo. Se por acaso ele coloca o produto dentro da mochila, ai o que a gente faz? Passa um rádio para o Antônio. “Antônio, o cara de camisa azul, calça jeans e mochila preta pegou um produt, colocou na mochila e não pagou. Para ele ai porta!”.
- Entendi. Tem que passar a descrição do furtante.
- Isso. Tem que passar a descrição e se possível acompanhar ação, digo que tem que chegar a ir à porta ai você que viu, aborda o furtante junto com o Antônio.
Continuei observando as pessoas que estavam entrando e saindo da loja. Então o Falcão pediu para que eu voltasse para onde estava.
- Você tava na porta com o Antônio?
- Sim, estava.
- Volta pra lá que vou ter que fazer outra coisa, ai você vai observando o que os outros fazem.
- Ok.
Voltei para a porta onde o Antônio estava que era a porta da Rua do Ouvidor, foi onde eu entrei.
- Iai o que ele disse pra você?
- Falou para ter atenção, ficamos observando um cara que entrou com uma mochila vazia.
Guaraciara então surge entre os corredores da bomboniere.
- Aqui Victor, um rádio pra você.
- Valeu!
- Antônio, fica um pouco no salão.
- Ok. Guará!
- Agora vou te explicar como nos comunicamos no rádio. Nós falamos por código. Então se uma mulher entrar na loja, nós chamamos de alpha e se um homem entrar na loja chamamos de skunk.
- Alpha é mulher e Skunk para homem.
- Isso. Pra ninguém perceber o que estamos falando.
- Entendi.
- Então passa no rádio aquele cara ali.
- Alpha... Não, não. Skunk, que está de camisa branca entrou na loja agora!
- Isso, mas tem que ser mais específico para quem estiver no salão e nas portas ficarem atentos.
- Entendi.
- Presta atenção nos informes dos outros no rádio ai você vai gravando.
- Ok.
- Fica ai um pouco e depois te chamo pra ficar em outra porta.
- Ok.
A loja continuava cheia, clientes entrando e saindo.
Já estava na porta a mais de uma hora, até que o meu desempenho não estava ruim. Passava o informe para os demais, tudo bem específico mais ainda sem os códigos, ainda não tinha gravado além de Alpha e Skunk. Estava tudo indo bem até que...
- QRU na loja!
Alguém no rádio disse que tinha um QRU na loja. Mas, oque é QRU?
- É o marido da Juliana e ele está indo para o segundo piso com uma mochila.
- Ele entrou por qual porta? – Perguntou a Guaraciara.
- Ele entrou pela a P2 onde o Victor está.
O tal do QRU entrou na minha porta. Mas, não sei como ele está vestido e não vi ningué suspeito entrar na loja.
- Não estou vendo ele aqui em cima. – Disse Guaraciara.
- Ele desceu Guará! Tá com a mochila cheia e tá saindo da loja!
- Estou descendo! – Disse Guará.
- Tem muita gente no meio da loja, ele não consegue passar!
- Estou vendo! – Disse Guará.
- Ele vai sair na P2. Oh Victor segura ele ai!
- Ele quem?
Comecei a olhar para os lados rapidamente, olhava para todos os cantos e para todas as pessoas e não via o QRU que eles falaram.
Até que o QRU estava com o pé fora da loja e ai Guará veio correndo me avisando...
- Segura ele!!
Foi no automático, o cara passou do meu lado de camiseta, bermuda, boné na cabeça e uma mochila preta. Ele já estava fora da loja e na calçada dei um pulo e segurei a mochila dele. O cara saiu correndo, achei que ele iria querer sair na mão comigo mas, saiu correndo pela a ouvidor em direção a Ramalho Ortigão.
Guará, veio e me parabenizou por ter recuperado a mercadoria mas, até então eu tinha pego só a mochila.
- Gostei hein. Abre a mochila ai.
- Caraca! Mochila cheia de brinquedos!
- É ele era certo que iria vir pra roubar.
- Não tinha visto esse cara entrar pela a minha porta.
- Você é novo aqui, e eles quando veem uma pessoa nova na porta aproveitam e entram porque sabem que você não conhece e por isso nós temos que ficar mais atentos ainda.
- O que é QRU?
- QRU, é furtante. Quando fala que QRU entra na loja é certo de ser furtante.
- E então tem que acompanhar?
- Sim, tem que ir atrás.
- Caraca! Que cara de pau! A mochila cheia de brinquedos.
- É vai se acostumando, mas, gostei. Já pegou o primeiro QRU.
Guará falou como se eu tivesse feito uma façanha no trabalho. Primeiro dia e primeiro furtante pego. Não vou esquecer jamais.
Um conto de Victor Nunes.