Estação Uruguaiana "Parte 4".

Os meus primeiros dias de trabalho foram bons, nem sempre a loja recebia visitas de furtantes então ficar parado sem fazer nada era ruim demais. A nossa responsabilidade era garantir que nenhum roubo aconteceria, mas, às vezes a loja ficava tão tranquila que mesmo assim tinha gente passando no rádio para fazer acompanhamento. Ladeira era um A.S que adorava fazer isso, afinal, era o único que fazia isso e desde que o conheci o seu informes nunca tinham mudado. Toda vez que ele passava um informe, no final sempre tinha: “Faz um acompanhamento aew”. Eu sempre zuava o Ladeira por isso e citava até exemplos de gente famosa pra dar uma zuada.

- Pow Ladeira, vai devagar nesses informes! Toda hora pede pra fazer um acompanhamento! Ai temos que ficar na correria.

- É só acompanhar cara. Senão tiver nada demais deixa pra lá.

- A Xuxa entrou na loja. Faz um acompanhamento aew! O Luciano Huck entrou na loja. Faz um acompanhamento aew!

- Ai você está brincando demais.

- Hahahahaha.

- Tem que levar mais a sério o que está fazendo.

Ele não gostava muito de brincadeira, não leva na esportiva as piadas e quem não leva na esportiva, acaba virando o alvo.

Lembro que teve um dia em que estava aprendendo algumas coisas dos bastidores da loja e isso incluía onde liga e desliga a bomba de água, onde acende e apaga as luzes, onde colocamos os rádios para carregar e onde pegamos as tarjas e o lacre (as tarjas era adesivos coloridos que colocávamos nas bolsas dos clientes... Na verdade os A.S é que pegavam, e o A.S que fosse à sala de vídeo é que escolhia a tarja. Por exemplo: Se eu vou à sala de vídeo e pego a tarja da cor laranja, então eu tenho que passar para os demais que a tarja de hoje é laranja. O rolo com as tarjas são deixadas nos caixas e quando o cliente efetua a sua compra o associado, cola a tarja em sua sacola e isso é uma prática muito boa porque quando os furtantes apareciam na loja eles tiravam no bolso sacolas da loja e assim eles tentavam nos enganar se passando de cliente e quando víamos que... Eu citei a tarja laranja. Certo? Então se a tarja do dia é laranja e o cliente que sair da loja com a tarja de uma cor diferente, um amarelo ou azul, nós somos obrigados a pedir a nota fiscal ao cliente. Às vezes entravam clientes na loja com a bolsa da loja e imediatamente temos que passar no rádio por que é uma informação importante, esse é um caso muito sério que tem que ter atenção. Já ouve casos que os A.S estavam conversando ou se distraindo com outra coisa e uma pessoa entrou na loja exatamente com a bolsa da loja. Comigo já aconteceu e Sadraque que estava no salão viu uma mulher entrar com uma bolsa da loja logo me perguntou se eu tinha visto a mulher entrar na loja e eu já tinha sacado que eu tinha cometido um erro e logo falava que não tinha visto e que estava distraído. Não prestar atenção neste detalhe faz os outros A.S ficarem malucos e os informes ficam eletrizantes, a pessoa que está com a bolsa passa a ser seguida na loja e quando ela for sair tem que pedir a nota fiscal. Sobre os lacres, são para os funcionários quando eles fazem uma compra, temos que registrar na folha o que o associado comprou).

Outro A.S que trabalhava na loja era o Carlos. Falar do Carlos da vontade de rir, porque sentíamos que estávamos desfalcados e que sua presença era mera figuração e que tínhamos que ficar atentos a P3 que é a porta da Ramalho Ortigão e onde o Carlos ficava praticamente o dia todo. Pra não dizer que ele só ficava na boa, Fernando, Guará e Sadraque quando estavam no comando colocavam ele na P2(Porta da Ouvidor) e lá ele passa mais informe, pouco mas passava. Mesmo assim, em qualquer uma das duas portas que ele ficava, tínhamos que ter atenção. Engana-se que esse cara era uma pamonha. Lembro que Sadraque disse para mim que os informes do Carlos eram os mais certos. Quando ele passava um QRU, era certo. Parecia que o cara estava escondendo o jogo e eu já pensei nisso, ele acertava de primeira. Ele passava o informe:

- Ai salão, da uma olhada aqui. Entrou QRU na loja!

E era certo. Vou contar uma história que envolvemos nós e o Carlos como o protagonista.

Certo dia estávamos trabalhando, um dia normal como qualquer outro. Eu estava na P1, O Carlos na P2, o Ladeira na P3 e o Fernando no salão, sendo que o Fernando estava com a chave do G.V nas mãos e toda hora vinha alguém pedindo para abrir o G.V então para isso ele teria que ter muita paciência até por que as pessoas que querem sair da loja esperavam um século para poder sair.

Carlos passou um informe e o informe que ele passou não era um simples informe. Era um grupo muito temido nas lojas, era o bonde das gordas.

O bonde das gordas, você pode até responder: “Ah é um grupo formado por mulheres gordas!”. Olha diria que você está certo em partes. O bonde das gordas é uma marca, um logotipo mesmo que isso não exista no papel. O bonde das gordas é formado por mulheres gordas e também por homens gordos por isso que disse que parecia uma marca, mas, o fato deste bonde terem gordos é uma estratégia para despistar. A dificuldade de enquadrar o bonde das gordas é que esse grupo tinha muita gente e quando entravam na loja, eles se espalhavam e só com o Fernando no salão, ele era obrigado a pedir a ajuda do externo que era o Sales ou Kléber. Para o nosso azar, o bonde das gordas veio neste dia na parte da noite. Guará, Antônio e Sadraque já tinham ido embora. Como essa parte da história é futurística, Ataíde e Paulo não estavam, mas, o que será aconteceu com eles? Aguardem próximos capítulos.

O fato é que o bonde das gordas neste dia não deu trabalho. Foram poucos integrantes na loja e o Fernando conseguiu acompanhar. Era uma mulher mais feia que a outra(com todo respeito) umas saindo pela a P1 que era a porta onde eu tava e outras saindo pela a P2 porta onde o Carlos estava.

- Ai Victor, essa que está saindo pela sua porta é do bonde das gordas. Grava a cara dela ai!

- Positivo.

Eu tinha a mania de ficar encarando e quando a mulher estava saindo da loja, fiquei a encarando e ela abaixou a cabeça. Enfim, nenhum furto aconteceu enquanto o bonde das gordas estavam na loja, a operação foi um sucesso. Elas iam roubar mas como o Fernando conseguiu acompanhar as que estavam na loja, então nada aconteceu. Um a zero pra nós.

A região da Uruguaiana é concentra o maior camelódromo do Rio de Janeiro juntando com o Saara. É importante ressaltar que todas as grandes lojas tinham auxiliares de prevenção de perdas e o lado bom disso é que todos se ajudavam. Quando o bonde das gordas saíram da nossa loja, elas se reuniram partindo para a Rua do Ouvidor no sentido Av. Rio Branco. Fernando viu que elas tinham entrado na Loja Riachuelo uma loja de roupas muito conhecida e logo ele foi avisar aos prevenções de perdas de lá. Os prevenções da Leader e C&A também ajudavam, várias vezes um prevenção da Leader tanto homem ou mulher vinha falar comigo que tal furtante foi à loja deles e eles vinham avisar que o furtante entrou na nossa loja. Achava muito bacana isso e nós já retribuímos o favor avisando a eles. Isso se chama união, estamos ali para impedir que produtos sejam roubados.

Quando o bonde das gordas saiu, Fernando deu os parabéns ao Carlos. Aliás, todos nós até porque senão fosse ele esse bonde iria fazer a festa. Ladeira e eu não conhecíamos esse bonde e então graças a Deus o Carlos as conhecia.

O bonde das gordas era respeitado por todos nós, Fernando tinha contato com alguns chefes de segurança de outras filiais. Ele já recebeu algumas mensagens via whatsapp de que o bonde das gordas estavam saindo de Niterói em direção ao Rio de Janeiro e onde elas poderiam ir? Para o centro do Rj. Já teve casos que o bonde das gordas estavam bem perto de nós, estavam na loja da Cinelândia e estavam vindo em direção a Uruguaiana e com todos os A.S na loja, estávamos já prontos para quando elas entrassem o que não aconteceu. Vou te falar hein é como a Guará dizia: A nossa equipe é muito boa! E Guará você tem razão.

Um texto de Victor Nunes.

Victor Nunes Souza
Enviado por Victor Nunes Souza em 06/03/2019
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