No Limite da Escolha

O tempo em que ele estava ali já não podia ser mensurado. A nunca coisa que podia ser dita era que se encontrava naquele lugar já fazia tempo. Muitos que por ali passavam não dava mínima a ele, pois era uma pessoa sem qualquer atrativo mundano. Contudo, como qualquer coisa tem seu limite, as pessoas começaram a se incomodar, andavam de um lado para o outro, avistava-o de soslaio, cogitava as diversas possibilidades de quem se tratava e o que planejava estando ali parado tanto tempo fitando o vazio. Miguel, jovem de vinte e três anos, branco, cabelos caracolados, nariz levemente empinado, sentado na praça de um bairro que nunca tinha ido antes. Ele sentou e começou a questionar como, por que, mesmo galgando enorme independência nunca tinha se debandado para aquele lado da cidade, sempre, sempre, se situou na região conhecida, construída, o que o impedia de sair do conhecido?

Obviamente, ainda não podia responder a isso, apenas sabia que hoje, nesta terça feira decidiu ir para um lugar que nunca tinha ido, onde, estranhos era o habitual, o destino, o planejamento não podia ser assegurado por nada, mas tinha um compreensão previa de que partir a algum lugar ainda não desvendado o impedia pelo fato de desconhecer completamente as vias e para qual fim destinava. De tal modo que, ali, sentado, debaixo de um pé de cajueiro, percebia o acaso permanente do mundo, qualquer plano era uma possibilidade de sucesso ou fracasso. Ali, Miguel compreendeu que o ano podia ser 1979, mas, entretanto estava em 2007 e qualquer pensamento foi e será repetido e quanto aquela sensação de não saber para qual direção seguir, não era única nele, normalmente podia ser sentida por qualquer pessoa, se bem que ele não conhecia alguém que afirmou assim se sentir, apenas no máximo expressam ser um espasmo da vida que fora contaminada pelo sentir sozinho, mas que no dizer deles não é algo para se preocupar, porque poderia ser extinto por qualquer riso diante de um situação plástica que facilmente imputam como sendo importante. Então por que não consegue deixar de pensar?

Depois de tanto esparsos na mente, reluzindo imagens representativas de toda a vida passada, projetando futuros não concebidos. Miguel chegou a pueril conclusão de que tudo que podia ser e não é, pode um dia se tornar, não está nas suas mãos, estritamente falando, a concreção de todas as coisas. Fácil saber quando aquilo é, mas no que vem a ser, naquilo que não é, não podia assegurar qualquer preposição, qualquer certeza, teria de colocar o pé para descobrir, teria que respirar fundo e mergulhar no inaudito, porque se tudo tem seu limite até o seu mundo que ele representou tem um. Visto que há tantas possibilidades de ele vim a se tornar que qualquer barreira que viesse a colocar só resultaria num fracasso de tornar aquilo que é para ainda ser. Por isso, só de uma coisa tinha certeza, de hoje ser terça-feira, que estava sentado numa praça, debaixo da sombra de um cajueiro tão contingente quanto ele e todas a vias e pessoas que pela sua fronte caminhava, são possibilidades de algo que o mero pensar não pode dizer, apenas tinha de escolher um sem saber no que seria resultado, mas teria de escolher, pois aquele mundo antigo já não pode mais satisfazê-lo. Tornou-se ciente das suas potencialidades. Deste modo, Miguel se levantou e escolheu um dos caminhos.