Ao amigo Ratho

Fiquei lá esperando meu ônibus chegar. Mas ele não veio. Também não vieram outros, nem carros, nem galos, nem cavalos. Nenhum meio de transporte apareceu. Fiquei revoltada. Logo hoje que eu tinha conseguido acordar cedo. Aí desisti de ir trabalhar, porque alguma coisa conspirava contra, e com essas conspirações vindas de não sei quem, não ouso brigar. Peguei carona no rabo do Ratho que se escondia em baixo da caixa de lixo e ele me trouxe até aqui, já que errou o caminho até minha casa. Abri o caderninho de anotações e lembrei que era domingo. Que besteira a minha! Achando que era um dia feliz comum, saí de casa toda animada e quando vejo, o dia certo de escrever estórias e contar piada. O rato motoqueiro me avisou logo que era ruim pra ambas as coisas, mas que ouviria o que eu quisesse contar. Ele achou tudo muito bom, mas brigou por não ter nenhum rato nas minhas estórias, exceto isso, está tudo uma beleza. Fiquei até satisfeita, afinal, ratos costumam ser bem críticos. Continuei a contar minhas estórias, passando página por página, olhando-o entre uma e outra. Num ou noutro, ele enxugava as lágrimas discretamente. Alguns o fizeram gargalhar, depois de se esbaldar, não falava nada. Quando terminei, ele aplaudiu. Aí eu decidi que iria publicar, pois se emocionei alguém como ele, tocaria outros também. Antes que se aproximasse muito da segunda feira, ele me levou de volta pra parada. Fui pra casa à pé. Atravessei a rua, subi as escadas e caí no sofá, cheia de planos e expectativas e desenhos encaracolados nos dedos.

E pra que o rato amigo, nunca mais diga que não há ratos em nenhum dos meus escritos, este foi em sua homenagem.