Correria

Oi você! Espera um pouco:

-Você não é lá do 101, bloco 13? Eu sou do bloco 16, 1502. Estou precisando mandar um recado para o casal do 1103 lá do seu bloco, com urgência. É que a filha deles caiu do escorregador enquanto brincava no parquinho do bloco 3, na queda ela acertou o menino do 1617 do bloco 9, os dois se machucaram muito e parece ter sido grave disse o bombeiro lá do bocó 7, 1101 que estava perto e junto ao porteiro do porteiro do bloco 3.

Será que você pode transmitir o recado para os pais da menina enquanto vou avisar os pais do menino.

-Assim que terminei de avisar a todos os envolvidos naquele episódio, me dei conta que precisava correr para tomar meu ônibus, se perdesse aquele horário a linha 140 teria que esperar por mais uma hora o próximo. Cheguei na hora exata, entrei no ônibus como de costume e fui direto a empresa que eu trabalho. Chegando em cima da hora de marcar o ponto. Mal tinha registrado minha entrada e me direcionado a sala em que faço minhas obrigações, fui abordado pelo rapaz que faz o correio interno dos setores da empresa. Ele vinha correndo como louco e me disse:

- Você é o supervisor da sala 28 da seção 3?

Respondi:

-Sim.

Ele continuou:

-O chefe da seção 3 precisa urgente que você é seu secretário de dirijam ao almoxarifado da seção 5 salas 8 para prestar contas sobre os gastos que foram feitos com o pessoal da manutenção do setor 10 que estão sendo questionados pelos auditores de qualidade da seção 7.

Foi até lá com meu secretário e junto com as pessoas do setor 6, sala 45 recusamos tudo o que foi necessário a preencher as necessidades do setor patrimonial na sala 17 e levado ao conhecimento do proprietário na da 12.

Ao término do trabalho peguei a costumeira linha 140 e voltei para meu cantinho no bloco 16, 1502.

Entrei e me encontrei com minha esposa Ana que me relatou que a menina filha do Casal do bloco 13, 1103 estava sendo velada no velório 33 do cemitério do central da cidade.

Parei por um longo período em silêncio.

Ana minha esposa com uma certa ansiedade e ar preocupado em me ver tão absorvido naquele momento, perguntou me:

O que está te afligindo Roberto? Porque esse olhar entristecido? É por causa da morte da menina.

Eu então desabafei. Em um pranto dolorido:

-Estou sim comovido com o acidente, mas o que mais me entristece é que não sei nem o nome dela ou dos pais ou de tantos outro que me rodeiam. Tanta distancia em tão proximidade. Dói perceber que para o mundo hoje nos reunimos apenas a números e siglas, na correia da vida, nossa humanidade tem ficado à margem. Esse não é o sonho de Deus para nós.

Eduardo Batista Silva.