Doutor, trocaram seu NIT
 
O legal da vida é a oportunidade que ela nos dá de fazer escolhas a cada amanhecer, ser alegre ou triste é com a gente, não é verdade? E eu penso que é melhor optar pela alegria, ainda que tenhamos problemas a resolver. Talvez, isso tenha contribuído para um dia feliz. Vou contar pra você meu querido leitor.

Há alguns dias eu vinha me aborrecendo com o carro que temos, muito grande, inadequado para o dia a dia e por outras coisinhas também, que não convém dizer aqui. - Pois bem, saí decidido a comprar outro carro. Na saída de casa notei que o zíper da minha calça apresentava problemas descia sozinho, pensei: - vou assim mesmo. Entrei no Banco pra falar com a gerente da minha conta, ver o que conseguia, mas sempre observando o provável desconforto de certo alguém, que também não convém dizer aqui, - conversamos e a bela moça me apresentou umas condições não muito favoráveis pro carro que eu queria, então eu pensei: - tá chegando final do ano, em dezembro vai haver muitas ofertas, vou esperar mais um pouco; agradeci a gentileza tirei uma gracinha, ela sorriu e eu fui embora.

Na saída, um pouco mais à frente um “outdoor” da CEF parecia estar sorrindo pra mim, então lembrei: - nunca mexi no PIS/FGTS - e o governo tava liberando, - decidi entrar na agência. Na entrega da senha para o atendimento, sorrindo pedi: - prioridade máxima, por favor. A mocinha olhou pra mim e respondeu: -  lamento, mas prioridade só para as pessoas que estão de acordo com aquele anunciado ali e o senhor não me parece estar enquadrado em nenhum caso daqueles, e prosseguiu, olhando pro brasão da República na minha gravata: - não está com bebê no colo, grávido nem pensar, não é aleijado e velho muito menos, pode até ser autoridade, mas aqui não é o caso. Eu pasmei e pensei: - cearense, só pode ser; já nasceu falando que matraca? Aí eu ri... e falei: - como é que você sabe que eu não estou prenho... rsrsr... ela quis ficar séria, mas não conseguia... então mostrei-lhe minha carteirinha da OAB e ela espantou... viu minha idade... nossa! Mas não parece, tá bom, me desculpe, e me olhou doutro jeito que minha carteira tremeu... e eu pensei: - tá, cheirosa... essa cabine está ocupada...
 
Não demorou, por incrível que pareça, e o meu número apontou na tela, aquele toque irritante com a voz mais ainda... 553 por favor mesa 06, um jovem de barba malfeita me deu bom dia e a célebre frase: - “em que posso ajudar”? Eu respondi: - Em tudo, menos n’uma que prefiro não falar... Ele riu e a conversa ficou amistosa, então falei: - Veja se tem alguma coisa pra mim nesse PIS ou FGTS entreguei-lhe o cartão cidadão já desbotado por falta de uso, ele mexeu no computador e imediatamente me falou: - poxa doutor, nada, nem num nem noutro, acho que o senhor já retirou tudo e não deve se lembrar... Eu olhei pra Ele e pensei: - Esse infeliz tá pensando que eu sou lerdo, como é que eu não vou me lembrar se nunca precisei dessa porcaria... e voltei a palavra: - Você tem certeza, não tem nada? Ele disse sim, nada. Aí eu retruquei: - Então, podemos dizer que “fudeu-se”? Ele gargalhou e disse acho que sim e quando ia completar eu lhe disse: - pare por aí esses palavrões somente eu posso falar, to liberado pela idade, ele prosseguiu rindo e eu levantei pra ir embora, já pensando numa ação cível de danos contra a CEF.
 
Quando eu ia me aproximando da porta giratória ouvi uma voz: - “Doutor, Doutor... eu me virei, era o desgraçado acenando com a mão para que eu voltasse lá com ele e assim eu fiz. Me aproximei e na cabine estavam duas senhoras de cabelos já grisalhos, sim, bananeiras que já deram cachos, então eu falei: - mas atenda primeiro as minhas belas amigas, além de estarem na vez são muito bonitas e mulher bonita tá sempre na vantagem... uma delas se ajeitou e disse: - mas por mim doutor tudo bem, esteja à vontade e a outra do mesmo jeito, deu-me vontade de rir pelo modo como falavam, sempre chiando, o que me fez lembrar uma carioquinha que adora puxar no “S” (O mas é mash e por aí afora... rsrsr...) então eu falei: - diga lá meu amigo o que foi, não me venha com mais coisas desagradáveis... ele riu e disse: - Me dê o número do seu CPF, vou consultar por ele, eu entreguei minha carteira e ele respondeu... humm... foi o que eu pensei trocaram seu NIT.
 
Então eu fiz uma cara de grande espanto e bradei: - O QUÊ? TROCARAM MEU NIT? No mesmo instante em que involuntariamente passei a mão pra levantar o zíper da minha braguilha e as duas que estavam ao lado, viram, botaram a mão na boca e começaram a Rir, eu notei o momento e acho que nessa hora o espírito do Rolando Lero baixou em mim, e eu prossegui: - MAS COMO ISSO É POSSÍVEL?  TROCARAM MEU NIT SEM EU SABER, SEQUER ME AVISARAM, AH, MEU DEUS E AGORA O QUE É QUE EU FAÇO SEM MEU NIT. O cara também começou a rir e eu continuei, MAS POR QUÊ? TEM UMA EXPLICAÇÃO PRA ISSO? E AGORA COMO É QUE FICA? O QUE SERÁ DE MIM SEM MEU NIT? O QUE SERÁ DA CHIQUINHA? Olhei pra trás tinha um casal de japonês e eu falei: - TÁ VENDO COMO É? LÁ NO JAPÃO TAMBÉM É ASSIM, TROCAM O NIT DAS PESSOAS SEM MAIS NEM MENOS?! Eles riram. As duas na cabine já morriam de rir e uma dizia pra outra esse doutor parece que é doido. Aí, a mais desenrolada levantou-se e disse: - mas doutor, o senhor sabe o que é NIT? E eu disse: - CLARO QUE NÃO, ME DIGA POR FAVOR... POR QUE ME PARECE QUE COMIGO TÁ TUDO EM ORDEM, morrendo de rir por dentro...
 
Aí o rapaz falou: - Mestre é o novo número. PIS e NIT é a mesma coisa...e veja só, tem uma surpresa aí pro senhor... eu peguei a guia e fui pro caixa, fiquei à frente do casal japonês que também tinham ouvido a galhofa toda e não paravam de rir – aí eu pensei: - ah, meu Deus hoje é o meu dia de graça. A moça do caixa começou a contar o dinheiro eu pensei: - ela deve estar enganada, - eu vi a bolada toda e perguntei: - é isso mesmo? - Achava que iam me pagar apenas os resíduos essas coisas assim, pouca coisa, mas não, era aquilo mesmo, então pedi que transferisse pra minha conta no BB e fiquei super feliz. Enquanto ela fazia a transferência eu conversava com os japoneses risonhos, por fim perguntei seus nomes e o cara me falou quase rindo: ...  o meu nome é Senhor Keremeter e o dela é Senhora Kétrepar...  pronto! Lascou-se!!!
 
Não sei se foi a opção pela alegria que me trouxe um dia feliz... saí dali fui comprar o carro que eu queria.
 
Abraços!



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Antônio Souza
(Contos/Cotidiano/Humor)
 

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