À SOMBRA DA MONGUBEIRA

Pindoretama não possuía praça, com bancos para se sentar e prosear. Estou falando nos idos de 1940, 1950. O local adequado para diversas conversas era a sombra de uma frondosa mongubeira. Sob esta árvore, as conversas giravam em torno de assuntos os mais variados que se podia imaginar. Desde política até fofocas sobre fulana, sicrana, ou sobre fulano, sicrano.

- Compadre, bom dia, e esta saudação vinha acompanhada de tirar o chapéu da cabeça, curvar-se um pouco, em sinal de respeito àquele companheiro, amigo. Soube que a comadre andou um pouco adoentada. O que aconteceu?

- Sentiu uma dorzinha na espinhela, mas tomou mastruz com leite, recuperou. Mastruz é um santo remédio, é cicatrizante.

Nesta roda de conversa, sob a frondosa árvore, havia os fofoqueiros.

- Tu viu, Zeca, Mariazinha, a filha de Jozefina, como anda se enxerindo pro lado de Zequinha? Coitada! Não sabe com quem está se metendo. Não é possível que comadre Jozefina não tenha uma conversa séria com a filha. Esse Zequinha é lapa de cabra ruim.

- Isso não é nada. Pior é Chicola. Cabra casado se botando pro lado da filha do meu amigo Zeferino. Vou avisar ao compadre para que dê umas esfregas em Chicola. O amigo Zeferino tem um rebenquezinho, que basta umas três chicotadas no lombo de Chicola que ele abre dos paus.

Ao lado dessa fofocagem, o assunto agora é política. Na época, os principais partidos eram UDN e PSD. Aí a teima era feia. Esses dois partidos se revezavam no poder.

Outra utilidade da centenária Mongubeira é que, por muito tempo, funcionou como xilindró para os bebuns. A cada segundo domingo do mês, o pároco de Cascavel vinha, a cavalo, ainda sábado, hospedando-se na casa do Sr. Raimundo Costa. Toda a população comparecia à Missa. Após a missa, realizava-se batizado.

Terminada a missa, a maior parte ia para suas casas. Os bebuns ficavam bebericando nas bodegas, até início da tarde. Havia um que fazia uma zoada, xingava, dizia palavrões, comprava briga. O delegado ordenava aos soldados que o prendessem, ou seja, que o amarrassem no tronco da mongubeira. A corda era bem grosa, dessas de laçar boi. À noitinha, sem o efeito etílico, o preso era solto. Nós, meninos, temíamos aproximarmos do preso, com medo de que ele quebrasse a corda e partisse para cima de nós. Só fantasia de criança!

Com a construção da praça, afiado machado pôs ao solo a centenária mongubeira.

Assis Holanda

2019

Raimundo de Assis Holanda Holanda
Enviado por Raimundo de Assis Holanda Holanda em 29/02/2020
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