Desventuras de Um Técnico - Temporada 2016 - Parte II - Nada Como Um Dia Após o Outro
Dois meses se passaram desde o fracasso no Campeonato Gaúcho e uma série de mudanças foram efetuadas nesse período com o objetivo de redimir-se na Série C com uma boa campanha.
Percebi que um de nossos pontos fracos era o excesso de volantes no meio-campo e pedi a diretoria mais meias ofensivos para equilibrar o setor.
Recebi dois reforços muito promissores: Rodolfo Péres vindo do Cametá e o angolano Lameiras vindo do Orlando City, dos Estados Unidos.
Veio ainda a baixo custo outro volante vindo da Europa: o ucraniano Kharatin para cobrir o buraco defensivo do lado esquerdo.
Pra compensar essas aquisições, vendemos Edmilson para o Fortaleza e o goleiro Renan para o Feirense da Bahia colocando em seu lugar o jovem Pietro, oriundo da base.
Também emprestamos Bebeto para o América de Natal e Paulinho Oliveira para o Veranópolis.
Com todas essas mudanças, acreditava-se que teria o equilíbrio ideal entre defesa, meio-campo e ataque e tinha ainda a esperança de sairmos dessa pressão em que encontrávamos.
A resposta dos rapazes foi melhor do que eu esperava.
* * *
A estreia na Série C foi bem promissora e convincente. A vitória sobre o Guarani por 2 x 0 mostrou que minhas apostas foram certeiras.
A partir daí, foi uma campanha memorável nas primeiras rodadas. Ficamos dez jogos invictos quebrando um recorde na história do clube.
Nada como um dia após o outro. O time estava rendendo muito bem e Lameiras e Patrick estavam jogando o fino, como os cronistas antigos diziam. O angolano inclusive estava liderando sua posição na Bola de Prata e a cada treino que comandava, via neles um semblante de confiança.
Na Copa do Brasil, tivemos o azar de pegar o Atlético Mineiro, atual campeão brasileiro e ainda assim não nos intimidamos.
Fizemos dois grandes jogos e perdemos ambos nos acréscimos sendo eliminados na fase preliminar, mas orgulhosos com que fizemos.
O que mais me irritou foi a arbitragem tendenciosa no jogo de ida em Belo Horizonte.
Validou um gol de Maicosuel em flagrante impedimento e foi bastante condescendente com os atleticanos que desciam o sarrafo a vontade e inibia nosso time de fazer o mesmo.
Se o diretor de futebol não me segurasse, certamente daria uma porrada naquele juiz sem-vergonha.
Tristemente percebi o lado sujo do futebol naquela partida. Quem garante que o juiz não recebia um dinheiro por fora pra prejudicar certo time?
Mais ou menos, como Edilson Ferreira de Carvalho e outros árbitros naquele escândalo de 2005.
Voltamos a nossa realidade na Série C e logo tive que resolver um grave problema envolvendo Rodrigo Arroz e Clayton.
Os dois brigaram feio em um treino por causa de uma jogada mais ríspida.
Não tive dúvidas. Peguei os dois pelo cangote, passei uma carraspana daquelas e afastei os dois pro jogo seguinte colocando Takumi Oguri e Dener em seus lugares.
Foi uma escolha das mais felizes. Vencemos o Cruzeiro de Porto Alegre por 2 x 1 e os dois foram indicados na Seleção da Rodada feita pelos sites especializados.
Após empatar com o Boa Esporte e vencer o Paysandu com um gol contra bizarro do zagueiro Magno Alves, a invencibilidade foi pro espaço no jogo seguinte. Perdemos pro Sampaio Corrêa com dois belos gols de falta feitos por Célio Codó e Pimentinha e naquele dia o time não jogou nada.
Ainda ganhamos do Oeste por 2 x 1 antes de passar três jogos sem vencer e sofrer a ameaça de sair do G-4.
O time resolveu tomar vergonha na cara e derrotamos o Veranópolis por 2 x 1 em um jogo bastante acidentado.
Os primeiros minutos foram tranquilos com Jean e Rodolfo Peres marcando os gols e acreditava que seria uma goleada contra o desesperado lanterna da competição.
Não foi.
Dener fez um pênalti desnecessário e foi expulso com Bruno Coutinho batendo e convertendo.
Foi então uma pressão infernal no resto do jogo. Saquei Kharatin que já tinha cartão amarelo e tranquei o time de vez ao colocar Léo Carioca na zaga e a turma de trás segurou todas as investidas do ataque do Veranópolis para garantir uma importante vitória.
Depois do jogo seguinte onde empatamos em 1 x 1 com o Fortaleza, o presidente me entregou uma carta vinda da Federação Turca convidando-me para ser o técnico da Turquia para a próxima Eurocopa sendo realizada na França.
Não pensei duas vezes e aceitei o cargo com a condição de voltar ao Caxias depois do torneio.
Sempre uso essa cláusula em cada contrato que faço. É uma forma de não prejudicar ninguém e também uma oportunidade para conseguir algo mais nessa carreira de técnico.
Passei a lista de tarefas para meu auxiliar-técnico e logo parti para Istambul com a missão de comandar outra seleção em uma competição tão importante como a Eurocopa como foi com a Copa América no ano passado com o Peru.
Esperando que dessa vez as coisas fossem um pouco mais diferentes.
Ao menos, pude ir bem mais tranquilo ao deixar o Caxias no G-4 da Série C.
E com a certeza de não ser demitido na volta.
CONTINUA...