BONÉ BLUE    
       
Atualmente, com tantos meios de comunicação pela internet como Facebook,  WhatsApp, Instagram e outros, os jovens desta geração jamais saberão a emoção de estar num parque de diversões ou numa quermesse e receber um correio elegante.
   
Quando eu era jovem na minha cidade natal Presidente Alves/SP, de vez em quando chegava um parque de diversões, mas não como estes que conhecemos hoje, com todos esses brinquedos modernos; era bem simples.

     
Vou contar como era: na entrada havia uma espécie de um portal, com um letreiro luminoso onde se lia o nome do parque.

   
Tinha a roda gigante, um brinquedo chamado chapéu mexicano, uns balanços que pareciam uma barca, onde duas pessoas sentavam uma em cada extremidade e ficavam puxando com uma corda para balançar.

     
Várias barracas com uma cerquinha ao redor e no centro um suporte de madeira como uma mesa baixa. Umas com garrafas de refrigerantes para laçar com argolas, outras com caixas de fósforo que, quando eram laçadas, ganhava-se um brinde, ou ainda com maços de cigarros.

   
Uma barraca de tiro ao alvo, com maços de cigarros Minister, ou lanche Mirabel (um biscoito tipo wafer muito popular entre crianças e jovens no Brasil durante as décadas de 70,80 e 90).

   
Geralmente, no centro se encontrava a barraca de som, onde ficava um rapaz sentado numa mesa, com muitos discos de vinil. As pessoas pagavam uma taxa, escolhiam a música para ser tocada no sistema de alto-falante e poderiam oferecer para alguém, uma amiga, amigo ou paquera.

   
Durante os dias em que ficava na cidade, o parque era o ponto de encontro do pessoal que ficava passeando por ali.

   
E as famosas quermesses que ainda temos atualmente. Na minha cidade, são promovidas pela Paróquia de Santa Cecília, padroeira do município, que tem sua festa no dia 22 de novembro. Nos dois finais de semana, próximos desta data realiza-se a quermesse.

   
Uma barraca cercada e coberta, com muitas mesas, onde são servidos leitoa  e frango assados, pasteis, churrasco. As pessoas vão para comer, tomar refrigerante ou cerveja, jogar bingo, bater papo e os jovens para paquerar.

   
Eram nesses eventos que, naquela época,surgiam os tais correios elegantes. Vinha geralmente uma moça com uma cestinha cheia de uns papeizinhos em formato de envelope e uma caneta; você pagava uma taxinha por um desses, escrevia uma mensagem para uma paquera e pedia para uma criança entregar.

   
Eu, quando jovem, recebi alguns correios elegantes, mas um ficou marcado na minha memória; foi no inicio dos anos 80, numa quermesse. Estávamos sentados numa mesa, alguns amigos e eu, conversando e tomando cerveja; eu havia notado que numa mesa próxima a nossa, tinha uma família, que não era da cidade, um casal e alguns jovens, entre estes uma jovem que aparentava uns vinte anos, com um boné azul. Ela estava  sentada de frente para nós, mas eu nem pensei em nada, estava mesmo só batendo papo com os amigos.

   
Num determinado momento, chegou até mim uma criança e me entregou um correio elegante que dizia:


     
Loiro, você tem uns olhos azuis lindos.

 Assinado: Boné Blue (azul).
   
Eu imediatamente olhei em direção à mesa próxima, mas esta já estava vazia; procurei por toda parte da quermesse e até na praça, que ficava ao lado. Nada da moça do boné! Tinha ido embora!

   
Na verdade, aquilo não significou nada, pois eu nem ao menos tive oportunidade de conhecê-la, mas o engraçado foi o que ocorreu depois.

   
Eu voltei para a mesa e mostrei o correio elegante aos amigos, que riram muito e disseram: “ela pode ter gostado dos seus olhos, mas quanto a sua cultura... não botou muita fé não..., pois escreveu boné blue e entre parênteses escreveu azul.” 
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 15/06/2020
Reeditado em 25/12/2020
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