Cigarro

A fumaça não mais confundia seus pensamentos:

- Estou te deixando!

Mentalmente, tentou contar as inúmeras vezes que tinha ouvido aquela frase, dita sempre do mesmo modo, sempre o mesmo estilo. Dessistiu. A matemática nunca esteve entre as suas habilidades. Principalmente quando envolviam algarismos de grande calibre, como era o caso.

Resolveu ser irônico:

- Ao menos dessa vez, feche a por....

Procurou os olhos dela, porém, eles já não estavam mais alí. Haviam saído, boêmios, em busca de outras alegrias. Em uma fuga absurda, deixando para trás o enorme equívoco que fora aquele amor.

Quando percebeu o erro que cometera, já haviam passados cinquenta anos, três meses e vários dias. Longos dias. Era um velho. Preso a sua rotina de velho, usando roupas de velho, com cheiro de velho e humor de velho.

Nesse instante, permaneceu parado, como se aquilo tudo nunca tivesse feito pate dele. Estava morto desde aquele tempo e ninguém percebera.

O cigarro queimando entre os dedos.