A Janela

Leninha tinha sempre o mesmo sonho de estar de frente a uma janela aberta. Passavam-se meses e meses e o sonho era sempre o mesmo. Até que ela resolveu tentar entender esse seu sonho de todas as noites.

Naquela manhã ensolarada de outono, Leninha começou a procurar por motivos que a levassem a sonhar. Tomou apressadamente seu café da manhã e saiu pelos arredores da casa procurando a sua janela dos sonhos. Olhou pelas casas da vizinhança e não obteve nenhum sucesso e voltou para casa entristecida, mas não desistiu de seu objetivo. Tudo o que ela fazia, vinha em sua mente o sonho e passou a ser um enigma intrigante.

Dia após dia Leninha procurou sem encontrar aquela cena que se repetia toda noite igualmente. Andava pelas ruas e seu pensamento era que hoje ela iria encontrar o lugar do sonho e talvez entendesse o porquê. Que se encontrasse o lugar do sonho, ele acabaria e descobriria o motivo.

E assim passaram-se anos e nada dela descobrir alguma coisa. Foi até se acostumando e nem ligava mais para tentar entender o motivo do sonho. Mas ele se repetia toda noite.

Um dia de manhã, Leninha acordou indisposta e resolveu ficar deitada. Era casada e seu marido trouxe-lhe um delicioso café da manhã e foi aí que ela resolveu contar a ele o seu sonho enigmático. Ele também ficou curioso, mas disse que não sabia o que aquilo significava.

Na manhã seguinte acordou bem melhor e não foi trabalhar, pois resolveu ficar em casa até que se sentisse segura novamente. Fez como se costume, levantou-se e foi ao banheiro, depois foi para a cozinha com o marido e tomaram café da manhã. Ele foi trabalhar e ela foi para o quarto arrumar a cama, depois abriu a janela e olhou para fora e foi nesta hora que tudo aconteceu.

Leninha sentiu-se no sonho e não era ela que ficava de frente a janela, mas sim uma velha senhora de rosto pálido e entristecido que a olhava da janela. Sentiu um calafrio, mas depois começou a entender que a vizinha do outro lado da rua era uma pessoa solitária e que não recebia há anos a visita de nenhum parente.

Sem pensar, trocou de roupa, embrulhou um pedaço de bolo e foi para a casa da velha senhora. Bateu à porta e a alegria da velha senhora ao receber uma visita, fez com que a imagem da janela aberta sumisse de vez de sua mente. Ficaram horas ali conversando, falando de coisas do dia a dia de cada uma e foi quando a velha senhora lhe disse que havia perdido uma filha e que era muito parecida com Leninha, por isso, ela ficava todos os dias na janela admirando-a de longe. Que sua visita a fez sorrir novamente e que era uma alegria poder recebê-la sempre que pudesse vir.

Depois de boas conversas e risadas, deixaram acertado de que duas vezes na semana e todos os sábados iriam fazer visitas uma à outra.

Leninha voltou para casa aliviada e tendo a certeza de que o sonho não iria se repetir. Como ela já sabia, pois sentiu na hora que viu a senhora na janela. Não viu a hora do marido chegar do trabalho e contar o acontecido.

Ele chegou e ela logo foi de encontro falando tudo o que havia acontecido e os dois esperaram ansiosos pela noite para saber se o sonho iria voltar. E como era previsto, do sonho de uma janela aberta nasceu uma grande amizade rica de histórias e sabedorias. Nós nos preocupamos tanto com o que é importante para nós que esquecemos de que podemos ser importantes para alguém.

Sissili
Enviado por Sissili em 17/03/2021
Código do texto: T7209331
Classificação de conteúdo: seguro