A PROFESSORA E A PANDEMIA

Queria dividir com vocês uma história. Se você se identificar com ela ou com a história de alguém conhecido, por favor não se constranja.

Imaginemos uma professora concursada de uma grande capital do seu país, que depois de um tempo exercendo sua função, viu na oportunidade de ser vice gestora uma nova forma de atuar na área que ama, a Educação.

Tudo ia bem, até assistir no telejornal sobre uma doença contagiosa, possivelmente mortal.

Em pouco tempo o vírus já estava no Brasil e logo mais na Bahia, onde morava.

Princípio de Pânico, tudo começava a mudar, em conversa com sua colega gestora, nossa personagem fala sobre a importância de seguir procedimentos para evitar contágio entre as crianças.

No início do mês de março o prefeito decreta a suspensão das aulas presenciais.

Era um alívio, pois estava morrendo de medo. Ainda mais que tinha um filhinho e seu marido, também professor, apresentava comorbidades.

Tudo ia bem até descobrir que, para garantir parte da alimentação de seus alunos e família o governo municipal iria distribuir cestas básicas, poderia ser tranquilo, mas ela descobriu que ela e a equipe gestora seriam responsáveis pela entrega.

Sim, em meio a pandemia a escola seria o local onde as famílias buscariam os alimentos. Como não ocorrer aglomerações?

Tentando junto com outros gestores de escolas municipais desde sempre pra que não corressem esses riscos, nossa personagem tem seu desejo frustrado pelo prefeito e sua secretaria de Educação.

Cada entrega era um estado de pânico e cada fim de distribuição um alívio e o medo de estar contagiada no ar.

Chegava em casa e ia direto ao banheiro. Morrendo de medo de contagiar marido e filho.

Essa sensação continuou por mais de um ano, quando o pior aconteceu.

Sua amiga gestora da escola testou positivo e foi internada. Poucos dias depois ela se sentiu mal e teve que ser internada. Pra piorar seu marido também teve que ser internado. Ficando seu filhinho aos cuidados de parentes.

Seus sintomas não eram gravíssimos, mas sentia falta de ar. Os exames mostravam baixa saturação de oxigênio.

Pelo celular conversava por mensagens com o marido e colegas de trabalho. Todos preocupados e orando pelo restabelecimento de sua saúde.

"Estou melhor, fazendo de tudo para não ir para a UTI."

Infelizmente naquela mesma semana ela foi internada na terapia intensiva, o quadro só piorava e nossa professora faleceu.

Comoção na cidade toda. Os pais que já não queriam seus filhos ou eles mesmos infectados através dos contatos escolares, mesmo sabendo do decreto insano da prefeitura pela rebertura disseram: NÃO.

A professora teve seu corpo enterrado, mas sua coragem, força e determinação continuam vivos em cada professor. Sua esperança e exemplo ficará pra sempre para seus alunos.

A história não acabou. Seu marido continua lutando pela vida, seu filho órfão de mãe, podendo, ainda ser órfão dos dois.

Como não culpar os gestores da pasta da Educação e da prefeitura essa e tantas outras mortes ocorridas pela ideia de responsabilizar gestores escolares por essa entrega?

A história piora, num melhor cenário possível, seu marido sobrevive com sequelas. Pela morte de sua esposa, segundo as novas regras previdenciárias brasileiras, ele terá direito a 50% do salário base da professora morta. Seu filho menor a mais 10%. Num cenário onde receba o piso da educação esse valor seria pouco mais de R$1700.

Terminar esse texto agora pensando que amanhã podem multiplicar essa história por 8 mil, me deixa muito triste e faz com que ele acabe em reticências, esperando o que virá acontecer a partir da abertura das escola para o ensino presencial…

Em tempo trago um dialogo entre professores:

- Eu vou voltar pra escola, não posso ter meu salário cortado. Tenho uma filha, que não pode passar por privações.

E a colega respondeu:

- Certo, ela não pode passar por privações, mas pode ficar órfã?_

Outrossim, vacinado com a primeira dose da vacina, não imuniza familiares não vacinados.