Severina Branca (vendo uma velha prostituta)

Tantos amores lhe marcaram o passado e hoje, triste prostituta, é desvalida de amor - até o próprio.

Ela que quando dançava deixava todos encandeados e quando falava embreagava os amantes com seus sentimentos exclusos. Era como a lua: para todos que estavam na rua. Era como a música: proporcionava emoções passageiras. Era como a bebida: enganava os sentimentos - essa era Severina Branca, que hoje é Severina em vida e Branca em esperanças.

Desvalida do amor perjura, declama versos ao lheu e se recorda de seus cabarés, desconhecendo se neles viveu ou morreu. Só sabe ela que a vida hoje lhe é um cabaré falido que insiste em existir mesmo em ruínas.

A vida dá golpes, que por inesperados são fatais à fragilidade humana. Ninguém prevê o manhã com exatidão, ninguém fala do futuro como se falasse de coisas óbvias e certas. A existência, no seu amanhã, nos reserva algo que as mentes pecaminosas desconhecem por excelência.

Não há sentimento que o tempo não desgaste, se desconhece afeição que a brisa maneira dos anos não agrida. Ontem fora alegrias e glamurias, hoje, em desventura, é tristeza e escarnecimento e amanhã se dará o final de todas as antíteses, contrastes e traições que o futuro guardou para uma vida Severina.

ERASMO SIQUEIRA
Enviado por ERASMO SIQUEIRA em 18/11/2005
Código do texto: T73005