Meninice
[Conto que garantiu o segundo lugar no 5o. Prêmio Joinville de Expressão Literária]
Sobretudo vejo o arquipélago ao afogar os pés na porta do quarto. Desacendo a luminosidade e coloco-me em postura de como quando avistei-as no mundo em primeira instância.
Elevei as pálpebras e percebi: elas olhavam para as minhas - para as mãos, principalmente.
Ontem anoiteceram espantadas: ao adormecer, eu pequei a maior das dores de uma vida adulta cruelmente antecipada. Não havia feito minha prece como nas infâncias passadas.
Logo juntei as mãos, entrelacei os dedos e penumbrei os olhos com força; tanta de amassar os cílios. Nesse instante, meu inconsciente presenciou um estado de entrega total; dentro de uma ingênua meninice.
Os astros quase em plena decepção forçaram sorrisos de alívio.
Passado as horas, principiou o sol. Fez guardarar, pois, as estrelas suas contidas confissões dessa quase desarmonia.
Despertei com a janela do quarto gritando em raios de luminosidade.
Fiz uma prece.
Aquela de uma inocência que implora saudade.
Tive o pressentimento de estar num gramado extenso com árvores de todos os tipos e balas de morango e abraços de comprazo. Pernas curtas e joelhos ralados, pés descalços ou sobre galhos traiçoeiros. E sonos embalados que meu avô me presenteava.
Abri os olhos e desentrelacei os dedos.
Mas a infância já havia passado.