NOITE DE NATAL

Uma neblina fina caia sobre o mundo, as árvores do bairro balançavam com o vento, nas calçadas homens, mulheres e crianças corriam para o interior das casas, lentamente as janelas eram fechadas e a vida tornava-se cada vez mais escassa no horizonte. Enquanto ocaso empurrava a escuridão, a neblina virava chuva, e os relâmpagos clareavam os céus, eu sentado, observa aquele mundo, o meu mundo emudecer e se esconder da natureza.

Por mais de duas horas, eu fiquei contemplando a vida até que me aflorou o desejo de sair. Desci as escadas, a mesa arrumada – pratos, talheres, vinho, doces – tudo estava perfeito. Antes de sair, observei a árvore toda enfeitada, luzes num colorido alegre e festivo, cartões sobre a escrivaninha desejavam “feliz natal e um próspero ano novo” – amigos distantes.

Sai, atravessei o jardim, me vi na rua. A chuva molhou-me completamente. Aliviou a dor de meu coração e os trovões se misturaram a voz da secretaria eletrônica: “desculpe, mas não podemos ir. Amanhã, bem cedo, passamos aí!”

Àquela tarde foi tão triste... Mas agora, eu era feliz! Só eu e a chuva! Só eu e a rua! Só eu e o vento...

Naquele silêncio, fiquei pensando que eu não sou o único sozinho neste mundo. Bem aí, num ponto qualquer há um solitário como eu. Se sentes minha dor, basta por agora, ouvir a chuva cair e deixá-la fluir como um canto a ecoar por tua alma, talvez assim, te recordes que um dia, há muito, uma jovem criança, também, numa noite de natal, foi desprezada e abandonada, e teve que nascer numa estrebaria.

Talvez isso, te dê um pouco de alegria...

Fander Miller
Enviado por Fander Miller em 28/11/2007
Reeditado em 30/11/2007
Código do texto: T757008