Esmeralda Tic Toc

Elar quer o prazer. Mas não o prazer só carnal. Esse ela até gosta, mas ela quer mais. Quer mais do que o superficial. Cansou-se de coisas banais e comuns. Já são 5 anos como vendedora, na mesma loja. Ela acorda todos os dias, no mesmo horário, 7 da manhã, faz o café, se arruma, veste o seu uniforme surrado de sofrimento, que são só 2. Já foram 3. Sai às 8 de casa, chega sempre as 9. E vai. Vai e volta. Todos os dias. No mesmo horário. Chega às 19. Os seus dias são loops, que só não se repetem nos dias de trânsito. Nos dias de trânsito, e aos domingos, que é o seu dia de folga. Neste dia a vida dela é diferente. Ela não vende roupa, só lava. Mas os dias são diferentes também quando há um trânsito, ela tem mais tempo para não fazer nada. Isso que ela faz entre o horário de descanso e o horário de trabalho. E lava a roupa, e passa. Só isso.

Esmeralda não quer a preciosidade só no seu nome. Quer brilhar como a pedra que ganhou o nome dela. Ela nasceu antes da pedra, mas só a pedra brilha. A pedra roubou o seu brilho. Mas ela quer de volta.

Ela se cansou dos clientes que a canta, pois queria que cantassem para ela. E os poetas. Ela quer um romance. Um romance que não comece as 9 da manhã. Um romance em que ela usa vestido, ao invés de um uniforme, na verdade 2. Já foram 3. O uniforme é cinza, como o fogo que se apagou. O uniforme é ela. Sem ele, ela nada é. Só a moça que lava a roupa, e as louças. Às vezes passa.

Esmeralda quer brilhar, e também quer arder. Quer voltar a ser a pedra preciosa que lhe roubou o nome. Quer mudar de uniforme, já se cansou do cinza. Ela quer um vestido vermelho, decotado na frente e rasgado nas costas. Ela tem lindas costas, pernas torneadas, que ficam escondidas pela blusa cinza e a calça preta. Ela quer tirar o vestido, mas não para ter prazer. Ela quer mergulhar, depois do baile de formatura, da faculdade que ela quer fazer. Medicina. Ela quer ser médica. Tic Tac. Tic Tac. É hora de acordar.

Mas um sonho louco de Esmeralda. Quando ela viu, já eram 8 horas, esqueceu de lavar as roupas cinzas. Hoje ela vai de branco. Blusa branca. Quem sabe não pare em um hospital, depois da sua demissão. E se der sorte, com a roupa branca, finge que é médica. Mas Esmeralda, depois da demissão, com um dinheiro que juntou em 5 anos, decidiu viajar. Foi de vestido vermelho, decotado na frente e cortado atrás. Muito sexy. Comprou uma jóia, adivinha! Essa mesmo que tem o nome, que é agora dela. Viajou ás 10 da manhã, sem o som do Tic Toc. Ela não sabe quando volta. Ela não sabe nem aonde vai. Só sabe que cinza só vai vestir no dia da sua morte. Mas Esmeralda é jovem, ainda vai viver o seu sonho!

Tic Toc, é hora de acordar Esmeralda.