Discutindo a relação

Ela entrou no quarto já se queixando. Seu namorado, no entanto, estava apenas deitado na cama lendo um livro. Seria o momento perfeito para terminar o namoro:

- Vou embora! – Disse ela.

- Vá. Mas não demore.

- Acho que não entendeu, vou embora da sua vida! Não aguento mais!

- Relaxa.

- Relaxar? Como vou relaxar! Tu és louco!

- Aham.

- Não aguento mais, sua calma, seu jeito de ser, seu bafo de álcool pela manhã, e suas cuecas sujas no chão do banheiro! Cansei, tá? Cansei!

- Tudo bem, vá embora.

- É assim, fácil? Não vai implorar para que eu fique?

- Não.

- Ótimo! Vou embora, mesmo! Já que não faço falta, depois não vá chorar me ligando de madrugada!

- Nunca ti liguei de madrugada.

- Como, não? E aquele dia em que estava bêbado?

- Não conta, eu estava bêbado.

- Tu és repugnante!

- Relaxa.

- Não vou relaxar! Já te disse que vou embora! Não vou relaxar! Entendeu?

- Sim. Mas relaxa.

- Arg! Vou matá-lo!

- Entra na fila.

- Tu sempre foste assim com todas?

- Sempre. E ainda estou vivo.

- Onde está minha mala?

- Na sua casa, tu nunca trouxe mala nenhuma pra cá.

- É verdade, facilitou, vou embora mais rápido.

- Já faz dez minutos que tu estás indo embora, meu amor.

- Está debochando, é? Achas que não vou embora?

- Acho.

- Pois bem! Então vou embora!

- vá.

- Nem vai se despedir?

- Estou lendo meu livro.

- Então seu livro é mais importante do que eu?

- No momento, sim, você está indo embora.

- Como é que é? Isso é um absurdo!

- Relaxa.

- Mas que droga! Chega com esse “relaxa”! Eu não vou relaxar enquanto estiver aqui com você!

- Tudo bem, vá embora.

- Como é? Quer que eu vá embora? Pois agora que eu não vou! Irei contrariá-lo! Não vou mais embora!

- Como se isso fosse novidade. E tu ainda querias que parasse de ler meu livro.

- Largue esse livro e me beije!

- Pensa que manda.

- Me beije!

- Relaxa. Até pouco tempo você estava indo embora, agora quer que eu a beije.

- Tudo bem, vou relaxar, vou beijar outro.

- Com se não beijasse.

- O quê?! Você acha que eu lhe traí?

- Não. Tenho certeza.

- Eu nunca lhe traí!

- Como, não? E aquele homem da noite em que estava bêbada.

- Não conta, eu estava bêbada!

- Bom, então você me entende.

- O quê? Que tu não me ligou de madrugada porque estava bêbado?

- Não, que eu já te traí.

- Tu me traíste?!

- Sim.

- Ó, não acredito! Seu cachorro! Homem é tudo igual, mesmo!

- Não sei por que vocês escolhem tanto, se homem é tudo igual.

- Vou embora!

- De novo?

- Mas agora eu vou!

- Relaxa.

Se tu me disseres mais uma vez pra relaxar eu juro que lhe dou um soco!

- Nossa, quanta violência, o que acontece com aquele beijo?

- Enfia na tua bunda.

- Relaxa.

- Tens razão, vou relaxar, mesmo, agora que estou indo embora.

- Demorou.

- Como é? Não ouvi!

- Limpa os ouvidos.

- Tu está me chamando de surda?

- Não, de porca.

- Porca? Bem eu que sou porca! E as suas cuecas cagadas no banheiro? Aquilo não é porquice?

- Pelo menos eu não deixo as minhas calcinhas na pia.

- Eu nunca deixei calcinha na pia do banheiro!

- Mas deixou na da cozinha.

- Muito menos na da cozinha!

- Relaxa.

- Eu vou embora! Agora chega!

- Tá.

- Tá? Só isso? Um simples “tá”?

- O que tu querias que eu fizesse?

- Que tu agisses como homem, e me impedisse de ir embora!

- Por que eu faria isso?

- Por que você me ama!

- Amava.

- Você não me ama? É isso? Acabou tudo entre nós?

- Exato.

- Não acredito que você terminou comigo! Como pôde? Eu não vivo sem você!

- Então não devias ir embora.

- Mas eu não vou, só queria que você demonstrasse algum carinho por min!

- Ah, porque não falou antes, era só isso?

- sim.

- Então vá embora.

- O quê?

- Estou brincando, me beije.

- Sim, ó amor, eu te amo tanto.

- Eu também te amo, minha linda.