Das correntes ao martírio

A cada momento em que meu peito repete o movimento das galopadas, de cima, através de meus olhos posso tranqüilizar-me pois sei que dentro dalí existe ainda a vida.

Nunca pude perceber como algo tão palpável e sensível ao mesmo tempo pode ligar-se diretamente com um lago de necessidades, de princípios de dependência que me afogam. O que dentro habita é inteiramente vegetativo se o que me faz presa inexiste por algum motivo, num instante qualquer; aqui do lado da epiderme.

Ás vezes indago-me. Reflito se a vivência minha torna-se vertiginosamente instensa ou minhas concepções de importância em relação a alguma coisa andam vulveráveis demais.

Acho estranhamente psicopata sua insistente força posta num toquinho de grafite, onde num plano qualquer e escrevível fecundam minha obra-prima.

Simplesmente porque uma pessoa normal não cometeria o martírio expôr-se às frustrações de quem sabe, uma produção não satisfatória. Não fariam isso. Justamente porque acho simplório e corruptível a ponto de desgastarem-se gradualmente. Pois estas desgastam mais a mim que qualquer outra coisa.

Me afoga ao pensar que terei de viver presa pelos calcanhares às correntes que por onde quer que as solas corram, arrastarão e ruminarão um timbre agudo. Pois tenho apenas livre as mãos. Meus calcanheres e pés encarceraram-me através dos ferros que gemem para nunca mais ter de viver longe da risca.

Abstinência, nesse caso, é pedir para que me lancem ao fogo.

Gostaria de poder chegar ao consciente ainda em vida e livre dos timbres que me prendem. Por isso, às vezes, penso que sou mais uma psicopata.

Por pertencer estranhamente à vida dependente.

A literatura acaba de tornar-me sua.

Heloisa Rech
Enviado por Heloisa Rech em 18/12/2007
Reeditado em 19/12/2007
Código do texto: T783542
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