Magnétika- cap. 16

Um dia, cheguei na cozinha; Dona Zulmira me recebeu bem, como sempre:

-Entre, Seu Jô deve chegar daqui a pouco para almoçar ( eu sempre vinha nesse horário, depois da escola e sempre filava uma boia deliciosa) .

Nisso Ivan entra num ímpeto, como era seu costume:

-Onde andou? Não me falou onde ia; passou a noite fora e nem avisou!- Disse, num tom áspero e preocupado.

-Não interessa!

-Interessa, sim; você deixa a gente preocupada; eu não dormi; seu pai queria ligar para a polícia!

-Eu faço o que quiser e vocês não são meus pais!

Ela baxou os olhos e continuou a remexer as panelas; nunca a tinha visto levantar a voz com ninguém.

-Podia ter avisado... onde andou?

Ele levantou a voz , com grossura:

-Não interessa! Eu não devo satisfação a ninguém! Faço o que quiser da vida!- E levantou-se, bravo, dirigindo-se a Dona Zulmira. Eu me levantei e fiquei entre eles :

-Não fale assim com ela- e levantei o dedo em riste.

Ele riu, depois ficou furioso:

- E quem é esse aí? Nem é da família? É um burguesinho, filhinho-de-papai, se metendo com a gente. Vá procurar tua turma!

-Não fale com ela assim! Não tem esse direito!

Ficou mais bravo ainda e me empurrou com seus braços fortes; eu me apoiei na cadeira para não me estatelar no chão. Acabei machucando a mão. Ele saiu num ímpeto e bateu a porta com força.

Dona Zulmira veio em meu socorro; viu o machucado e ficou inclonsolável; pegou mertiolate , umas ataduras e gaze, enrolanda em minha mão. Ela não media palavras para me consolar:

-Ele é assim; não ligue e não se meta com ele. Desculpa! É um menino muito revoltado.

-Não tem problema; nem está doendo muito.

Quando seu Jô voltou ficou muito bravo, o que não era seu costume ;

- Deixa ele- disse Dona Zulmira

-Ah, não ele não pode ser violento e machucar as pessoas; preciso conversar com ele...

Quando voltei para casa, minha mãe ficou estupefata; não adiantou eu falar que me machuquei na escola.

-Minha nossa? O que essa gente fez com você? Não falei? Vou falar com seu pai.

À noite, em conversa com o marido, exclamou:

-Viu o que essa gente fez com nosso filho? Vão machucá-lo; precisamos dar um jeito.

-Mas ele gosta muito deles, se afeiçoou

-Onde nós erramos? Demos-lhe tudo do bom e melhor? O que vamos fazer?

-Vou pensar em algo- disse meu pai.

O que eu iria fazer?