Vidas Breves VII

Os olhos vacilaram, seu rosto colado no chão só podia ver o tênis vermelho próximo ao seu nariz. Uma onda de calor invadia-lhe o corpo, mas logo o frio viria. Sua vida foi uma sucessão de erros que agora não conseguia deixar de pensar e pesar na balança que agora parecia tão cruel.

Quando tinha doze anos, não muito tempo atrás, conheceu um garoto que morava num morro perto da sua casa. Logo conheceria um grupo de meninos barra-pesada que o convidariam para o pequeno e lucrativo negócio de roubar carros. Nos primeiros dois meses fazendo aquilo teve certo receio de ser apanhado, mas quando viu que era fácil como todos diziam tomou gosto pela coisa. Logo estava à vontade para fazer tudo com a maior calma do mundo.

Os “amigos” o incentivavam, e ele treinava a abertura dias seguidos e realmente era o melhor naquilo.Sentia-se grande, intocável. Durante um ano e meio teve todo o dinheiro que gostaria; até conhecer Alfredo, há três segundos, quando havia batido seu recorde de abertura numa BMW nova em folha. Ele, Alfredo, disse oi e em seguida atirou com uma pistola Glock, calibre 22 prateada. Ele notara a sombra se aproximar um segundo antes de virar-se para ouvir o disparo que atingira suas costas na altura dos pulmões, impedindo que um grito de dor soasse pela rua deserta onde agora ecoava o som seco que a pistola produzira.

Não conseguia falar com Alfredo para não dizer nada para sua mãe. Não conseguiu olhar para o rosto dele quando o frio se apoderou de seu corpo e as lembranças de sua mãe o abraçando se desfaziam como um castelo de areia que a onda acerta. Sua vida se foi tão rápido que poucos lembrariam de sua passagem por ela.