O crime de Santa Maria

Roberto Peçanha, homem bem instruído, de família abastada, estudou até na capital onde se tornou técnico em contabilidade.

Quando terminou seus estudos e voltou para Paracatu, terra de seus pais, não tinha muita coisa para fazer. Diziam que seus estudos na cidade grande não haviam servido para nada. Se fosse um advogado, talvez estivesse melhor e trabalhando, mas como técnico em contabilidade ia fazer o que? Já que necessitava de experiência para exercer a profissão, e além de tudo quem tinha contador, naquela época, procurava os da cidade próxima que era mais desenvolvida e onde o comércio e indústria eram em maior quantidade. Lá os contadores tinham mais experiência, pois já militavam na profissão havia mais tempo e tinham muitos clientes o que os obrigavam estarem sempre bem atualizados.

Com isso foi ficando na fazenda do pai. Fazendo um serviço aqui outro ali, ajudando em tudo que podia, tornou-se um agricultor, assim como seus avós e pai para desagrado dos mesmos. A mãe desejava que ele fosse para o seminário onde poderia ser um sacerdote o pai queria que se tornasse advogado, pois era a profissão mais respeitada na região pela pomposa posição e o título de Doutor. Mas Roberto, não havia nascido para aquilo. Sua sina era mesmo se tornar fazendeiro como o pai, não gostava de cidade.

Passado o tempo, tudo foi se ajeitando, quem tinha que se conformar, conformou, quem tinha que acostumar e aceitar, acabou gostando e assim tornou-se dono da propriedade que seus pais lhe entregaram. Aposentaram-se, fizeram o que era costume naquela época. Mudaram-se para a cidade e deixaram o filho com o encargo de cuidar da fazenda.

Logo, Roberto, que se sentia muito só, arranjou uma namorada e deu jeito de se casar para criar uma família na fazenda, prometendo sempre ser diferente do que foi com ele.

Agora, também ficou mais fácil, pois os seus pais tinham casa na cidade.

Nasceu o primeiro filho e logo, antes mesmo de completar a idade escolar já frequentava com regularidade a casa dos avós. Assim acostumou-se mais com a cidade que com o campo.

Seu Roberto teve outros filhos cujo destino foi sendo igual do primogênito que se chamava Rogério.

A fazenda progrediu tanto que foi preciso modernizar. Comprou máquinas, contratou empregados e adquiriu até caminhão, contratando para motorista um rapaz da região chamado Sandro.

Sandro ficou encarregado de transportar o leite e outros produtos da fazenda para comércio, trazendo de lá as coisas que a propriedade requeria. Assim fez Sandro por muitos anos.

Certo dia desentendera-se, nunca se soube por quê. Só que Roberto despediu o Sandro e houve briga feia cheia de ameaças com Roberto proibindo Sandro de voltar à fazenda sob qualquer pretexto.

Seu filho mais velho estudava em uma cidade não muito longe dali. Já era rapaz. Orgulho dos pais e dos avós já estava cursando o antigo segundo grau.

Ficava em uma cidade distante 35 quilômetros de onde moravam seus avós, onde vinha passar todas as férias.

E durante todo esse tempo, poucas vezes esteve na fazenda, cumprindo o que o pai determinara. Menino se quiser ter futuro tem que acostumar com a cidade.

Rogério conheceu, e ficou amigo de Sandro. Sempre pegava carona com ele para a fazenda e de volta para a cidade.

Não sabia, no entanto, da desavença do pai com o motorista.

Certo dia, esperando na beira da estrada para ir para a cidade dos avós, Rogério encontrou Sandro o qual dirigia outro caminhão que não o da fazenda. O motorista quando avistou o rapaz, logo parou e lhe ofereceu carona.

Rogério, não tinha motivo para desprezar a carona de um conhecido, ainda mais desconhecendo suas desavenças com seu pai.

Entrou na cabine do caminhão e vieram conversando normalmente com sempre fizeram. Mas no meio da estra- da, em um determinado momento Sandro parou o caminhão inventou uma desculpa, abriu a porta desceu e em seguida retornou. Rogério permanecia sentado ao lado do motorista.

Nesse momento, ao entrar na cabine, Sandro sacou, sem que Rogério percebesse uma faca tipo peixeira e abraçou o rapaz por trás e deferiu-lhe um golpe mortal no peito. Agonizante, Rogério, antes de dar o último suspiro olhou para Sandro, como se quisesse perguntar o porquê e morreu.

Morreu dentro do caminhão de Sandro, o qual o transportou morto até à casa de seus avós. Chegando lá, como se tudo estivesse normal, desceu, abriu a porta do carona e sem nada perguntar, pegou o corpo do rapaz no colo empurrou a porta com os pés e colocou-o sobre um sofá que existia na sala.

Feito isso chamou o pessoal da casa e disse simplesmente:

- Está entregue.

Entrou no caminhão e desapareceu. Nunca mais ouviu-se falar de Sandro.

Seu Roberto Peçanha não se conformou, mandou pessoas procurarem o assassino. Pedia notícias aos caminhoneiros e recebia pistas falsas que ia pessoalmente investigar, sem nenhum sucesso.

O tempo passou e o crime caiu no esquecimento e seu Roberto desistiu de procurar e passou a sentar-se em uma cadeira de balanço na varanda da fazenda, como se estivesse esperando por alguém.

O Sandro ou Rogério?

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