Magnétika- cap. XVII

Um dia, minha mãe chamou meu pai, na hora do almoço, e alertou-o:

- Precisamos fazer alguma coisa; ele não pode continuar com essa gente!

Meu pai pensou um pouco e respondeu:

-Mas.. o que podemos fazer?

- Que tal mandá-lo estudar fora, fazer intercâmbio?

-Mas ele não terminou o colégio ainda...

-Depois que terminar; vamos pensar em algo. Você não tem aquele amigo e parentes que moram nos EUA?

- Os parentes estão na Europa...

- Qualquer um deles; podemos encaminhá-lo.

- Eu também pensei num curso no exterior.

- Aí esquece dessa gente...

Eu ouvi o fim da conversa. Mudaram de assunto e de tom.

- Então...( disse minha mãe), estamos pensando em lhe dar um presente de formatura...

-Sim, uma bela viagem ao exterior. Sei que é estudioso e não fica de segunda época...

- Recuperação! (corrigiu minha mãe). E pode fazer um belo curso, até universidade no exterior. Imagine que bom para seu currículo. Eu, se pudesse, ia embora desse país, mas seu pai gosta daqui...

-Eu não vou deixar meus amigos!- Disse , de supetão.

Minha mãe franziu a testa; meu pai olhou para cima, como se tivesse enfrentado a mesma coisa na adolescência.

- Que amigos? Aquela gente? - Disse, ríspida, minha mãe.]

-Sim , amigos... ( me enfureci) as únicas pessoas que me deram atenção, que se preocuparam com o que sentia, com o que sou e não com o que querem de mim. E vocês pensaram no que eu quero? Já vão mexendo os pauzinhos e fazendo planos. E se eu

não quiser?

Eu sempre fui bom aluno, gosto de ler, de fantasiar, de criar; tendia para a arte, a música. ia bem na escola, ensinava os outros alunos, mas me achavam estranho, ensimesmado; não sabia o que queria. Mas não ia fazer o que queriam...ah , não. Saí da sala e bati a porta com força. Eles ficaram embasbacados.