A VILA LAIANA

Vila Laiana era uma cidade emancipada recentemente, mostrando pujança desde quando arraial. Nascera nos arredores de um centro religioso derivado de Ifá (não era sincretista, não aceitava santos católicos). E os donos eram bons! Vila Laiana, com as ruas largas, o comércio forte, povo trabalhador e pacífico, dava indício de urbe promissora (parecia planejada), porém, os habitantes possuíam apenas um defeito: A vida alheia.

Vila Laiana também era engraçada, como toda a cidade do interior. Cada morador tinha um cognome : Cocá, Tapuia, Carne do sol, Esperança, Carlos do Sal, Direc (esse reformava escolas), alçapão, passarinho, jabuti... Em cada quadra havia uma igreja católica e protestante, mas o povo ignorava os preceitos canônicos, concentrando-se na vida dos vizinhos, impedindo o progresso a contento da jovem cidade e preocupando o chefe do Executivo municipal.

O prefeito à época era umbandista, recebendo em sonhos "entidades evoluídas" com diretrizes a cumprir. Uma das quais, era batizar cada nome de rua - que antes era por letra - com o nome de um orixá, fazendo alusão aos nomes antigos. Segundo os "guias espirituais", era a única solução para o mal aparentemente irremediável (vidas particulares), decidindo então o prefeito a abençoar a tal cidade.

A Rua "O" ficou como Rua Omulu; a Rua "I", agora é rua Iemanjá, e assim sucessivamente... Misteriosamente, havia uma rua em particular, sendo, portanto, a mais famosa. Rompia as barreiras psicológicas e físicas. Não havia preocupação com a vida alheia, não havia briga de foice e facão nem troca de tiro. Nem outros pecados capitais, como a inveja. Era um Oásis no deserto.

Porém, não encontrando nome de orixá correspondente à letra da rua - já que todos os nomes disponíveis das entidades tinham se esgotado, a vereança aprova mais um projeto do prefeito. Batizam então, a boa rua, como Rua Exu.

Emadilson de Jesus
Enviado por Emadilson de Jesus em 01/01/2024
Reeditado em 01/01/2024
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