"A mulher de preto na estação Liberdade"...

Escrevo na tentativa de diminuir o aperto que me vai na garganta e desce sofridamente guela abaixo como se fosse fel amargo.

Concentro-me enquanto sinto lágrimas quentes rolarem incontroláveis pelo rosto sem que possa fazer nada para contê-las.

Preciso me sentir livre disso.

Dessa sensação ruim que me assola nesse momento e me transforma em um nada.

Um reflexo borrado da mulher que sou e transparesso ser.

Normalmente não me deixo levar pelas situações que me acontecem, no entanto, essa realmente tirou-me o chão e me vi sem entender.

E pior, a questionar-me.

Recriminar-me por dar espaço para que alguém penetre em minha vida que é tão planejada e calculada para que não haja descontrole.

Justamente porque o descontrole traz isso.

Sentimentos de mágoa.

Sentimentos de.desconforto.

Posso ser tudo menos mentirosa.

E eu confesso que sou daquelas que amam a falta de sentimento.

Gosto das sensações da carne.

Tesão, desejo.

Luxúria.

E era apenas isso o que queria dele.

Não deveria ter esticado o plano...

Dado espaço para que uma atitude julgadora fosse o suficiente para que sentisse ferir-me como punhal.

E foi assim que sangrei hoje.

Em meio a feirinha no bairro da Liberdade.

Muitos olhos curiosos a olhar a mulher de vestido preto encostado no monumento central com os olhos brilhando por lágrimas que desciam lentamente.

Uma mulher que permaneceu por horas em silêncio.

Olhos perdidos.

Como a espera de algo ou alguém.

Que não achou e nunca veio.

E nem jamais há de encontrar.

Melhor assim.

Penso eu.

Antes aquelas lágrimas fossem pela dor que sentia em sua perna por estar de salto apesar de não ser um bom momento para isso.

Mas, eu desejava agradar.

A cada passo que dei senti o fisgar dolorido, no entanto, não me importei porque estava indo até onde deseja.

E no fim, enfim...

O aperto no peito aumenta.

Ainda não entendo mesmo tentando.

Ele sabia que eu estava lá, parada e perdida, apenas esperando.

Só não quis ir até mim por um orgulho que vêm de outros carnavais.

Que viveu antes mesmo de eu existir.

E na real, para ele eu nunca existi.

Porque se tivesse existido jamais teria feito algo assim comigo.

Punitivo.

Ameaçador.

Sem ouvir.

Sem benefício de dúvida.

Sem olhar no olho.

Como se não tivesse conversado tanto e conhecido metade do meu coração.

A metade que hoje já não existe mais.

Na verdade nenhuma parte dele.

Lição aprendida com louvor mais uma vez.

Vida que segue...

Blandos Vultus
Enviado por Blandos Vultus em 26/01/2024
Reeditado em 22/02/2024
Código do texto: T7985490
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