501 Lembranças da minha avó

Há 80 anos só existiam os meus avós e os meus tios, que moravam na região de Mimoso de Goiás, uma currutela pertencente ao município de Niquelândia. Brasília não existia, era uma região com muitas currutelas e fazendas. Os meus antecedentes maternos eram descendentes de escravos. Há uma velha estrada que vai para Niquelândia e passa por Muquém (cidade religiosa), que rodeia uma serra com calçamento de pedras, que ainda é usada por peregrinos cristãos.

Lembro-me da minha avó materna, que gostava muito dela, de nome Santina Lucas de Almeida conhecida por Criola, que tinha um pequeno papo (deficiência de iodo) e era brava, morreu aos 55 anos de idade, vítima da doença de chagas. A minha mãe morreu em 2003 aos 62 anos de idade, vítima de câncer nos rins, e teve 07 filhos, eu, mais 04 homens e duas mulheres. Dos meus 08

tios maternos restaram, meu tio Bregídio (88), minha tia Otaciana (80) e meu tio João (76). A minha tia Otaciana é a mais nova de três irmãs, é viúva e tem 05 filhos, dois homens e 03 mulheres. É a nossa segunda mãe e contadora de histórias.

A minha tia Otaciana me contou que naquela época as pessoas vinham até a cidade de Corumbá de Goiás distante cerca de 180 km no lombo de cavalos para comprarem sal, açúcar e outros mantimentos, viagem de 01 dia. Que a travessia do Rio Maranhão era feita em canoa ou num vau na época da estiagem, pois não havia balsa nem tão pouco pontes. E que apesar das dificuldades, a vida era divertida; que andavam léguas a cavalo para irem numa festa onde dançavam toda a noite.

A minha tia me contou ainda que quando criança chegou um homem em sua casa e disse para a sua mãe: Bom dia, comadre Criola, vim aqui pegar emprestado de ti um bocadinho de açúcar para fazer um chá. Que a minha avó lhe respondeu: Compadre, estou sem açúcar no momento, estou usando rapadura para adoçar o café. Que o meu tio Bregídio disse: Não mãe, tem um potinho de açúcar do fundo do balaio coberto de algodão. E que a minha avó justificou: Compadre, me desculpa, tinha-me esquecido onde guardara o açúcar, vou buscar um bocadinho para ti.

Goiânia, 17-02-2024

(Do meu livro Minhas histórias, pequenos contos, em construção)

Alonso Rodrigues Pimentel
Enviado por Alonso Rodrigues Pimentel em 17/02/2024
Reeditado em 17/02/2024
Código do texto: T8000839
Classificação de conteúdo: seguro