A mulher que chorava

Numa noite fria e tensa, transitava eu nos meus devaneios, viajando agradavelmente num vagão do metrô.

Pensava nas belas poesias de Pessoa, nos contos do Machado e – nem sei como fui parar nisso – até em algumas árduas obras dos grandes filósofos alemães.

E o trem seguia.

Eu já adentrava a incrível história do tonto Viramundo, quando ouvi, meio de súbito, os alto-falantes bradarem que aquela era a estação terminal.

Só então pude perceber que uma senhora – de meia-idade, talvez uns 40 – estava a chorar no canto oposto ao meu – solitária.

Num instante que mais parece uma eternidade, castiguei-me por não ter me dado conta daquela pobre alma desconsolada e lânguida, que vertia lentamente suas gotas d’água, como se não pudesse mais contê-las no seu âmago.

Ainda nesse momento, tão incessante quanto a continuidade da vida, fiquei imaginando que a desafortunada senhora, quiçá, estivesse todo aquele percurso a derramar seu pranto sem que, ao menos, merecesse o devido consentimento de interromper minhas quimeras e, de pronto, indagá-la, ainda que tão somente pela misericórdia – ou, menos ainda, pela educação – se ela estava sentindo-se bem.

Mas, não estava.

Eu a mirava, no intuito de transmitir todo o meu pesar, todo o meu sofrimento longínquo, adquiridos naqueles segundos nebulosos e de tormenta. Meu espírito sentia de uma forma tal que eu poderia jurar que caíam lágrimas de meus outrora firmes olhos.

Por fim, não tendo eu conseguido expressar minha mensagem telepática de condolências e, tendo sido abertas as portas do vagão, pude ouvi-la morbidamente ao celular:

- E agora, Carlinhos, quem vai latir e abanar o rabinho quando eu chegar em casa? Quem? Quem, meu Deus, quem? Mundo vil! Meu Deus! Nããããããããão!!!

E pôs-se a chorar pelo caminho.