O BILHETE

Tonhão Coca litro. Nascido Antonio dos Anjos, poderia ser qualquer outro nome, mas, não, sua mãe, que Deus a tenha, tão logo ele nasceu incutiu que deveria chamar-se de Antonio. É homenagem a Santo Antonio, santo casamenteiro, meus filhos, dizia ela e por força do sobrenome de família, foi batizado como Antonio dos Anjos. Por ser um mulato forte, compleição robusta, tinha mais de cem quilos, alto, cabelos bem crespos, lábios grandes, enfim, um digno representante da raça negra, assim , função do singular perfil, ficou conhecido por Tonhão...E por favor, não me perguntem a razão do complemento “ Coca Litro “, a resposta faria corar até um marinheiro !

Pois bem, Tonhão, o dito “Coca Litro” era amancebado com uma loirinha. Seu nome era Marcinha, como o próprio nome indica, esta era uma mulher pequena no tamanho, mas, grande na valentia. Também pudera para agüentar o Tonhão, tinha que ser muito da valente. Diziam as más línguas, sabem, intriga da oposição, comentários maliciosos que circulavam, assim, ao pé do ouvido, porque se o Tonhão ouvisse era um Deus me acuda. Por muito menos Tonhão tinha acabado com muitas festas. Ah sim, o comentário...Era que quando Tonhão fazia amor, Marcinha tinha dois prazeres. Um na hora do orgasmo e outro quando ele saia de cima dela!

Continuando...O cenário de nossa estória se passou na favela do Canta Galo, incrustada no morro do mesmo nome. Moravam numa casinha de madeira humilde, mas, muito arrumada e limpa. Ser pobre não é vergonha, mas, relaxado e porco, isto sim. Ela costumava dizer.

Certa noite, Tonhão chega do serviço, suado, cansado e foi logo perguntando :

__ Muié.. Cadê o bilhete ? Marcinha, sem nada entender, assustada, retruca :

__ Bilhete? Mas, que bilhete? Tonhão ! e eu sei lá de bilhete?

__ Muié, deixa disso, vamos logo, passa logo o bilhete ! Senão eu lhe meto a mão nas fuças !

__ Santa ignorância ! Tonhão, eu já lhe disse que não sei de bilhete nenhum !

Ato contínuo, sem muita paciência, Tonhão desceu o porrete na pobre da Marcinha. Foi só pena que avoou ! A casa até estremecia, parecia um deslisamento de terra que vez ou outra ocorria no morro. A vizinhança toda apavorada, começou a sair nas ruas, Lá dentro da casa o pau comia e comia bonito. A pobre da Marcinha, toda quebrada, mal conseguia parar em pé, e o Tonhão insistia : “ Eita, Muié danada, cadê o bilhete ?

Vendo que não tinha jeito, para não morrer de tanto apanhar, Marcinha enfiou a mão por baixo da blusa, e de dentro do soutien, tirou um bilhetinho , todo amassado e entregou para o Tonhão. Este sem nada entender, pegou o bilhetinho e leu, sem acreditar no que seus olhos estavam vendo, ou melhor lendo, estava escrito exatamente assim : “ Marcinha, minha lora. To morrendo de saudades do seu cheiro, vamos vê se a gente se encontra lá no pagode do Zeca, assim que o Tonhão sair ? “

Na medida em que lia, e as palavras foram entrando no cérebro do Tonhão, este ainda segurando Marcinha com uma das mãos, com a outra desfechou um golpe final na pobre e arrematou :

_____ O bilhete que estou procurando é o bilhete da loteria que estava no bolso da minha camisa ! Era um bilhete premiado , sua sem vergonha.... !

Sir Lancelot
Enviado por Sir Lancelot em 12/12/2005
Reeditado em 12/12/2005
Código do texto: T85046