Amigos

Num bar tanto comum para os moradores daquela cidade, dois amigos se encontraram para mais um ritual melancólico de fim de semana. Alexandre, rapaz pacato, pensativo, sempre achando que há algo ao redor que precisa ser desprezado e Márcia, bela jovem com atributos que conquistam qualquer homem que ponha o olhar sobre ela, exceto Alexandre; Talvez por isso sejam tão amigos; Desculpa não descrever a bela jovem, não é machismo meu, ela apenas tem isto de relevante para pontuar. Bom... Como já é habitual sentaram pediram a mesma cerveja, encheram os copos e começaram a decorrer eventos que poderiam ser apresentados a mesa. Alexandre um pouco mais mórbido que o habitual, começa, Sabe Márcia! Hoje Roger perguntou para mim se estava feliz. Como pode perguntar isso para mim? Será que não me conhece o suficiente? Respondi lhe dizendo que não há no mundo pessoa mais feliz que eu, tanto que, a felicidade ao se apresentar para a vida ela veio pedir conselho a mim e disse: não se popularize, senão se tornará vulgar. Devo ressaltar que a felicidade tem seguido meu conselho a risca. Boa menina esta a felicidade. Márcia riu por certo instante ao comentário de Alexandre, mas não acrescentou nada.

O silêncio se perpetuou por uns minutos na mesa, não sabiam mais o que falar. É bastante incômodo quando se põe a mesa com pessoas que ficam sem assuntos para dialogar, nesse momento é que se nota o quanto de valoroso é a comunicação e não sei bem quem maximizou: o homem que não fala se assemelha a um rato. Os dois estavam parecidos a ratos. Aí, Alexandre continuou no assunto anterior se bem que, pontuando sobre o oposto: Agora tenho de lhe dizer, a tristeza é filha da puta mesma. É o espinho na nossa carne. Por mais que tentamos remover, mais nos incomoda, e não tem vergonha de se mostrar para todo mundo, ao contrário, faz questão! Segundos de alegria, horas de tristeza. Essa é a regra... Mas, temos de algum jeito supera-la, não me venha perguntar como, porque não sei bem o que dizer. O mais fácil é se acomodar com ela, imaginar que é feliz sem ser, assistir TV e rir junto com a pouca intelectualidade que nos apresentam. Bom, assim suponho, se bem que sempre faço o contrário do que digo. Onde está o garçom? Quero pedir algo para comer. Hoje eu só almocei. Chamou o garçom pediu dois pasteis de camarão, Márcia não quisera nada. Ela só ficava olhando para os lados, reparando no movimento do bar, era mais intenso que o habitual. No entanto, não falava nada, só ficava em silêncio.

Os pastéis logo vieram. Bom para Alexandre que não agüentava mais de fome. Enquanto comia, falou algo que pensara nestes últimos dias. Veja só que engraçado Márcia! Deus na sua onipotência cria os seres mais atrozes que alguém pode imaginar; Ele tem essa possibilidade. Aí quando estes seres se encontram na Terra, logo faz o que destinado a fazer: atrocidades. Só que, ao morrerem, Deus os envia para o inferno com a explicação de que eles, suas criaturas, não seguiram os “mandamentos”. Com isso, o diabo, na sua insignificância, tem que agüentar estes seres por toda eternidade. Tudo por causa, de uma vontade em colocar o universo com mais “movimento”, resultado do tédio onipresente que Deus tem... Além do mais... Esse tédio talvez seja explicado pelo excesso de amor que possui. Assim, para ter também preocupação e por que não: ódio. Deste modo, quem Ele veio criar para ter este sentimento? O homem. Porém, ao criar em sua imagem e semelhança, assim falou os escritos sagrados, também o homem necessitava de alguém que tivesse essa relação de amor e ódio, então surgiu a mulher. Contudo, qual ser veio para mulher se comportar do mesmo jeito perante ele? Márcia um pouco pensativa disse, outra mulher. E sorriu.

A conversa se interrompeu por minuto, devido à introspecção de ambos. Pensavam coisas contraditórias, sem qualquer nexo, apenas pensamentos. Alexandre contou um relato, sabe Márcia, antes de tudo a originalidade, mesmo que ela te leve ao abismo. Sei que você ser original ter um modo de avaliar o mundo, não digo melhor, simplesmente diferente dos outros. Se bem que é quase impossível afirmar um modo de avaliar o mundo como diferente de qualquer outro, pois se encontra semelhanças, mas entende o que quero dizer! Bom, a conseqüência é desgastante, sofredora, solitária, enigmática, mal-compreendida. Mas tem que viver desta forma... para no final de tudo olhar para trás e se orgulhe de haver escrito uma vida onde se possa, até, considerar como uma obra de arte. Arte, vida, sabe que sou um esteta e, assim, tenho uma vida penosa... Diferente do que Kierkegaard expôs neste jeito de viver. Onde os prazeres são utilizados a tudo que é direito, não que seja contra a isso, só não consigo ter essas oportunidades de usufruir o maior grau da sensibilidade... Tenho um negócio pra falar contigo, mas deixe pra lá... Tratava-se da grande atração sentida por ela, queria beijá-la, levá-la para cama, passar uma noite em intenso prazer. Não falou. Márcia disse, não se preocupe só precisa sair da sua torre de marfim, você é bonito!

Os elogios não mais entravam no entendimento dele, sabia que qualquer elogio é ínfimo, não se pode tê-los como base de algo. Mas é sempre bom ouvir um. A conversa não se limitou mais em assuntos, ficavam mais tempo calados. Foi aí que Alexandre decidiu falar com a amiga sobre sua atração por ela. Contudo, Márcia disse, desculpe sair assim, mas aquele rapaz ta me olhando desde que entrei e já não agüento mais, vou lá falar com ele. Márcia foi. Conversa de dois minutos e saíram do bar, ambos com um sorriso estampado na face, por ter um ao outro. Quanto a Alexandre, bebeu o copo de cerveja, já não tinha mais nada para fazer ali e seguiu para casa. Sabia que amanhã Márcia iria ligar para ele e marcar uma outra conversa.