A APOSTA

Jurandyr, quase esbarrou em Bernardo, que por sua vez levou um baita susto com a presença do outro. No normal Jurandyr só aparecia ao escritório por volta das dez horas. Metódico, arrumava a mesa, não gostava que ninguém mexesse em seus papéis, só então abria o jornal, segundo ele para olhar as cotações da bolsa, mas todo mundo sabia, que ele lia mesmo, a página de esportes sempre à procura de noticias do seu time, o Vasco da Gama, sua maior paixão, a outra era o jogo do bicho, todos os dias saía ás pressas, para fazer uma fezinha... Terminada a leitura do jornal, pegava a garrafa térmica, que a moça, da limpeza, deixava em sua mesa logo cedo e tomava meia xícara sem açúcar. Só então iniciava o trabalho. Daí o susto de Bernardo que sempre chegava mais cedo, para acompanhar a chegada dos funcionários e se assegurar que “tudo estava sob controle” expressão que ele usava quando nas reuniões com o chefe.

Olharam-se e perceberam de imediato a forma caprichada que ambos se vestiam. – Nossa Jurandyr, como você tá elegante, - mentiu Bernardo, na verdade pensou está ridículo, a camisa de listras azuis com gola e punhos brancos, calça de tergal marrom com vincos marcados e sapatos pretos com bico branco, um horror. O cabelo arrumadinho, parecendo um chumaço de grama mal cortado, mas o principal era o bigode imenso, parecendo um mexicano, que ele penteava a todo instante... – Você também Bernardo, - respondeu olhando pro outro com uma ponta de inveja, não apenas da juventude, mas da elegância descontraída, que era o estilo de Bernardo. Jurandyr só não entendia porque Laila o convidara e fizera questão que ele não comentasse nada com o rapaz. Pela lógica Bernardo é que deveria ganhar a aposta, mas parece que a moça gostava dos mais experientes, azar o dele, - pensou.

Laila, era a recepcionista e única mulher do escritório, é verdade que tinha a moça da limpeza, mas essa não contava, e quando chegou todos os homens ficaram de queixo caído. Educada, gentil e o melhor dona de um corpo de destaque de escola de samba... a pele só de olhar dava pra sentir a maciez. O rosto parecia uma estampa de santa (...), mas os olhos estes eram brejeiros e desmentiam qualquer lampejo de pureza. A boca de lábios carnudos, parecia pedir beijos. Foi uma loucura, todos queriam ajudá-la, desde o boy até o patrão, mas ela parecia não entender, tratava a todos, de forma educada, mas distante. Foi daí que Jurandyr resolveu fazer uma aposta de quem conseguiria ganhar os encantos da moça.

Há dois meses se revezavam, cada semana um deles fazia a corte, mas ela não encorajava nenhum. Saia, jantava, porém na hora de uma conversa mais romântica, desconversava. Três desistiram restando apenas Jurandyr e Bernardo. Este último também quiz sair fora, mas Jurandyr insistiu, o chamando de frouxo e Bernardo então continuou no jogo.

Jurandyr estava eufórico se sentia o próprio galã dos anos 40. Bernardo por seu lado estava inquieto mesmo sem saber o motivo de Jurandyr está tão “arrumado,” só o via assim nas festas do final do ano. Que estaria aprontando? O coroa era sinistro... será que desconfiara do seu encontro com Laila? – Não, não demos bandeira, combinamos tudo por telefone, pensou. Mas aquela história o deixava nervoso, era quase noivo e se a namorada descobrisse ele estaria perdido. Ele quisera desistir da aposta, mas Jurandyr ferira os seus brios dizendo que ele não era de nada, que não sabia conquistar uma mulher... Ficava torrando o saco pelos corredores lhe dando conselhos, criando estratégias infalíveis de conquistas. Por mais de uma vez Laila os surpreendera aos cochichos e dera uma risadinha sem graça, ele ficou com medo achava que ela estava desconfiada. Mas agora o convite dela para um jantar e em sua casa o deixara confuso, será que finalmente ela se decidira por ele? Bom logo mais saberia.

Saíram juntos do escritório Jurandyr foi pegar o "chevette prateado" seu orgulho e Bernardo entrou no Supermercado pra comprar um vinho. Laila saíra uma hora mais cedo.

Jurandyr foi o primeiro a chegar trouxe quase a floricultura completa... Laila quase foi agarrada, mas educadamente o mandou aguardar na sala. Minutos depois Bernardo tocou a campainha. Laila estava colocando a mesa e Jurandyr se ofereceu pra abrir a porta, levou um susto quando deu de cara com Bernardo que entendeu menos ainda. - Laila grita da cozinha - fiquem a vontade. - e secando as mãos entra na sala para falar com o rapaz - Sem graça Bernardo entrega o vinho pra Laila. Na confusão surge Lourdes, a moça da Limpeza, impecável em seu vestido preto de costas nuas, que realça o pescoço gracioso onde numa pequena tatuagem está escrito “Laila”.

Abraça Laila e pergunta – amor, quer alguma ajuda?- Laila sorri - não, já providenciei tudo, só falta o meu beijo, - Lourdes então a beija nos lábios...

- Jurandyr está tremendo, grita furioso - que brincadeira é essa? – Bernardo não para de rir. – Laila, calmamente, os interpela – Vai dizer que vocês não sabiam do meu caso com Lourdes? Porque eu saquei longe que vocês se pegavam no escritório. Por isso os convidei. E fiz todo esse mistério porque sabia que vocês ficariam com vergonha de assumir.

Jacydenatal

23/03/08