"Uma chacina Suzanense... - sete corpos inertes no asfalto.".

Imagine-se...

Não sei bem se no poslúdio da manhã ou no prelúdio da tarde do dia [29] de marcço do corrente; para a posteridade [2008.].

Procedente do terminal de embarque e desembarqe de Arujá, às 09h 49m, apeio defronte ao [Shopping D'avó, ali, na esquina da Rua Sete de Setembro... - de onde? Qualquer cidade do país tem uma rua com essa denominação, não; não complico... - [Suzano!].

Bem, sob a influência dos raios infravermelhos, dos ultravioletas, dos gamas da Sol, desço a Rua Sete de Setembro, quebro à esquerda na Rua Benjamim Constant, atravesso a Rua Quinze de Novembro, passo em frente do Mercado Verán, sifo em direção à gare de Suzano, destino... - [as dependências da Secretaria de Cultura.].

No dia de hoje cumpro a minha escala no que tange ao projeto [Arte na rua, parceria não da Prefeitura Municipal de Suzano], pois toda prefeitura é municipal, mas da [Prefeitura do Município de Suzano] com a [Associação Cultural Literatura no Brasil.].

Não obstante, mal chego ao número desejado, o [682], da Rua Benjamim Constant onde se localiza o Paraiso Cultural Suzanense, ou seja, a Biblioteca Municipal Maria Elisa de Azevedo Cintra, o Auditório Orlando Digenova e o Centro Cultura Francisco Carlos Moriconi, tudo isto, na esquina da Rua 27 de outubro, ainda que eu não deseje, a Fatalidade caminhando a passos lentos e de mãos dadas com a Historicidade me faz defrontar com a chacina onde sete moças são, cruelmente, esquartejada.

Eu confesso... - [Fico estarrecido!].

Verdade é... - três dos corpos caem à porta de um bar e, ainda que inertes, acomodam-se sobre um sofá de três lugares ostentando braços em madeira e estofamento vinil na cor vinho, talvez descartado à calçada, o que em muito me choca.

Mas, e os outros corpos?

Bem, os outros corpos tombam no espaço fronteiriço ao prédio qye abriga parte da [Secretaria de Cultura] amparados ao lado do passeio público , agora, disputado pelos moribundos, os transeuntes e os cadáveres das quatro moças infelizes.

No entanto, ainda que para isso eu não meça esforços, trinta minutos mais tarde consigo saber do nome das vítimas da horrenda matança, todas jovens, não mais do que vinte e seis [26] anos de idade.

Desse modo, defronte ao bar, insepultas no sofá, estão a Helenice Dutra de Carvalho, a Simone da Cunha Aguiar, e, a Mary Anne Menato.

Do outro lado da rua, estiradas à calçada, imóveis, inertes, se encontram a Solange Brandão Bastos Lucena, a Brigitte Bertaux Dejoss, Elisa Ferracini, e, ainda, agonizante, a Nicoleta Pausini Conti Piacentini.

Destarte, não sou testemunha ocular da história, pois havia adentrado ao prédio, organizado a amostra, pego a mesa, tomado as toalhas para forrá-la, e, descendo os cinco degraus da escada anexa à portaria do prédio, encaro a cena esdrúxula, grotesca e aterrorizante.

Como se vê, à frente do bar, há uma perna direita, grosseiramente, amputada se esvaindo em sangue, abundantemente, pela Veia Femural, há três braços seccionados, e, conseqüentemente, treze litros e quinhentos mililitros do líquido vital propenso escorrer pela sarjeta.

No entanto, atravesso, e, na outra margem, a cena é análoga, pois, dos quatro corpos insepultos à calçada, há três pernas e dois braços, além de uma cabeça decepada com Aortas, Coronárias e Capilares vazando nada mais nada menos do que dezessete litros e quinhentos mililitros de sangue para o interor do esgoto sanitário, pintando na tela da existência o quadro... - [Atrocidade Revelada.].

Entrementes, a vida é a incógnita toda, para o homem todo, para todos os homens, e, nesse caso, não pode ser diferente com o [Grupo Teatral Contadores de Mentiras] que é a incógnita toda, para o expectador todo, para todos os expectadores e que, indiferentes a chacina e aos cadáveres mutilados e insepultos, propõe a encenação de seu espetáculo.

O show vai começar e como diz Roberto Carlos:

O show já começou,
Vamos voltar à realidade,
Não precisamos mais,
Usar aquela maquiagem,
Que escondeu de nós
Uma verdade que insistimos,
Em não ver.
...
...

O paradoxo entre o real e o ilusório, o cenário real dos crimes praticados e o ilusório da peça teatral, ali e agora, encenada...


O espetáculo tem como personagem central, uma bailarina exótica, Anita Tascafogo, de saltos altos ao invés das tradicionais sapatilhas, a jornalista esqusita, Fatinha Bernardonni, com seios volumosos tipo Pâmela Anderson e nadegas avantajadas semelhantes às das mulheres africanas, e mais, Chicos Anízios, Claudetes Rodrigues, Ronalds Golias, Paulos Gracindos e Zezés Motas semi-profissionais mais que, entre os corpos mutililados, representam as suas réplicas televisivas.

Fica aqui o meu protesto...

A Polícia Militar acionada através do [190] não apareceu senão quando os corpos já haviam sido removidos para
o Instituto Médico Legal contíguo ao Centro Cultural Francisco Carlos Moriconi, e representados pelos camarins da turba artística.

Contradita...

Pode ser...

Na verdade, a Helenice Dutra de Carvalho, a Simone da Cunha Aguiar, a Mary Anne Menato, a Solange Brandão Bastos Lucena, a Brigitte Bertaux, a a Elisa Ferracini e a Nicoleta Pausini Conti Piacentini, as jovens mutiladas, não passam de personagens inanimados do espetáculo encarnados em singelos manequins.

Demais disso, obrigado por me ouvir nas letras frias deste texto, parabéns a Polícia Militar, tão achincalhada em detrimento da fragilidade dos sistemas de governos, que detecta a irrealidade dos fatos, aos atores e ao espetáculo...

Até breve!
YOSEPH YOMSHYSHY
Enviado por YOSEPH YOMSHYSHY em 01/04/2008
Reeditado em 01/04/2008
Código do texto: T926888
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