PARA SEMPRE MEU AMOR

– Por favor, não torne as coisas mais difíceis...

– Mas Cris, eu te amo... Jamais vou te esquecer...

– Não diga isso. Não é verdade, o tempo o fará esquecer... Ele cura tudo!

As palavras da mulher eram a sentença do fim de um relacionamento breve, de um encontro desencontrado, onde um amava, e outro tentava. Era o primeiro romance longo de Deivid. Jazia em suas veias um sangue pulsante, juvenil, e apaixonado. Seu primeiro amor. Ela vivera poucos anos a mais, duma vida desencontrada, onde no jovem encontrara o carinho que não obteve de quem amava. Deivid sabia, que se talvez a olhasse antes, se não deixasse Tiago aproximar-se, tê-la, possuí-la... Por mil vezes praguejou sua demora, sua negativa ao romance que para ele se mostrava. Se olhasse antes para aqueles olhos cintilantes e vivos, para aquele rosto de traços finos e meigos, que lutavam ao máximo para ocultar uma fragilidade oculta. Se seus cabelos dourados e longos o tivesse cativado antes, se aquelas curvas métricas o tivessem chamado a atenção, o quem sabe se tivesse parado para conversar com pessoa tão incrivelmente doce. Tanto poderia ter feito, e nada fez.

Seus olhos buscavam pelo nada em meio a uma multidão se face. Caminhava sem destino, e não sabia que tudo o que mais desejaria por uma vida estava tão próximo. Andava em círculos, enquanto Tiago ganhava o coração que ele não ganhou. Neste círculo de perdição viu seu amigo destroçar os sonhos de quem ele tentaria reativar. Minimizava seus erros culpando o destino, pois foi vendo Tiago errando com Cristina que dela se aproximou. No começo era apenas um auxílio para alguém de quem ele sentia inclusive pena, pois jamais concordaria com atitudes como as de Tiago. Deivid admirava as mulheres, as respeitava. Tiago Não.

Assim conheceu a ela, a sua doçura, ao companheirismo, a amizade e tantas coisas boas e belas que ela tinha para oferecer-lhe. Apenas o amor não estava nesta lista. Não que ela não quisesse, pois o queria, mas seu coração não a permitia, estava presa a Tiago como a terra ao sol. Tentou esquecê-lo. Odiá-lo. Não conseguiu, como também não conseguiu evitar o amor nascer noutro coração, e se despedaçar naquela tarde de outono.

Deivid partiu com lágrimas. Insistiu outras vezes, mas em vão. O mesmo destino desencontrado o levou para outros caminhos, outros lugares. Namorou tantas outras, e até casou-se, duas vezes para ser exato. Teve filhos, e mais recente vieram os netos. Hoje poucos se lembram do período em que ele perambulava embriagado, chorando por amor. Poucas testemunhas, e mesmo estas não possuem mais a memória da juventude.

Mas Deivid ainda lembra-se. Não como um pensamento remoto, e sim como lembranças que muitas noites lhe tiravam o sono e o remetia àquela tarde fria e cinzenta. A memória quase sempre vinha com lágrimas. Sinais de sentimentos tão secretos que apenas seus lençóis com ele partilhavam. Depois uma nesga de alegria o invadia, pois por ultimo vinha o sorriso dela, e amor, mesmo que distante incendiava como brasa adormecida. Cristina sempre viveu dentro de seu coração, este era seu grande segredo, e mesmo que ela não pudesse mais ouvir o que ele tinha para dizer, ela a encontrou, e fez questão de desmenti-la, mesmo tendo de falar a uma lápide solitária, triste e sem flores.

– Você estava enganada meu amor. O tempo não cura, o tempo não some com nossas lembranças. Ele apenas ameniza nossas dores... Aqui estou eu, a sua frente, e ainda amando-a. Por Deus, que me lembro do teu cheiro, do teu gosto, do teu toque... Você estava errada! Vim aqui apenas dizer-te isto. Lamento que seja tarde. O velho joga um ramalhete de margaridas sobre o túmulo e dá as costas, sem perceber que sobre ele repousa a foto de Cristina ao lado de um jovem belo e viçoso: Deivid.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 19/04/2008
Código do texto: T952580
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